Pular para o conteúdo principal

Cidade feia

Minha família, por imposição das circunstânscias (a cidade em que morávamos não tinha faculdade e os filhos atingiram a idade de cursá-la), mudou-se para Campinas no ano de 1964, mais precisamente no dia 4 de fevereiro: eu não havia completado 16 anos, o que se daria alguns dias após. Moro, portanto, nesta cidade há 48 anos e aqui completei meus estudos, obtendo inclusive a graduação em Direito na PUC-Campinas. Aqui também prestei o serviço militar, aliás, diga-se, na época "de chumbo" do regime militar. Posso, afirmar, portanto, que conheço esta cidade. E posso afirmar, também, que Campinas, de "Princesa d'Oeste", foi se convertendo numa cidade feia.
Durante vários mandatos - até hoje, posso dizer, foram mais de 10 anos - a cidade não teve a atenção que qualquer cidade deve ter de seus governantes. Tudo o que se fez (não se assustem com o "tudo", pois foi pouco), não se fez pensando nos moradores e sim em quem, não sei.
Calçadas impróprias para deficientes físicos, para cadeiras de rodas e carrinhos de bebês. Este é um episódio à parte e vou me fixar apenas no bairro em que moro, Cambuí. Abre-se um comércio, o proprietário rebaixa a guia e os carros ali estacionam transformando a calçada em intransitável. Um prédio é construído e faz-se da calçada uma rampa de entrada na garagem. A prefeitura nada enxerga.
AS ruas e avenidas continuam as mesmas de 20 ou 30 anos atrás: nada se construiu nesses anos e a única modificação no trânsito foi por conta da "rótula", que utilizou as vias existentes, sem construir nada. O número de habitantes foi crescendo, o de veículos, idem, e as vias continuaram as mesmas. De repente, o trânsito de Campinas se tornou um caos. E a tendência é piorar, pois o aumento de população e veículos continua - a tendência é sempre crescer -, sem que nada seja feito.
Não vou falar das praças, que é tema da mídia nos presentes dias, em seu estado de completo abandono, cujo tema deixarei para uma próxima oportunidade, quando o abordarei inclusive postando foto (ou fotos). Eu acalento o sonho de todo aposentado: sentar-me numa praça, ouvindo o som dos passarinhos, e lendo um bom livro (fiz isso nas férias de janeiro: li "Steve Jobs por Walger Isaacson", "Estrada escura", de Dennis Lehane ("Sobre meninos e lobos", por exemplo, filmado por Clint Eastwood) e "El tercer reich", de Roberto Bolaño (chilen; não confundir com Roberto Bolaños, "Chaves"). Mas com as praças no estado em que se encontram, não dá.
Silvio ARtur Dias da Silva

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante