Toda cidade deve ter um som que a caracteriza. Uma cidade praiana certamente terá o som das ondas quebrando na areia. Lembro de sons de algumas cidades: passávamos as férias em Descalvado, onde tínhamos parentes, e nos hospedávamos na casa de um tio que ea dono de uma tecelagem: o som das máquinas trabalhando caracterizou-me a cidade. O mesmo acontecia em Santa Bárbara d'Oeste, onde também tínhamos parentes: a casa de uma tia em que nos hospedávamos era vizinha de fundo de uma tecelagem. Na cidade em que nasci e morei até os 16 anos - Jaú - o som que me marcou era o do sino da igreja (morávamos muito perto de um colégio católico [Colégio São Norberto do Jahu - era assim que se grafava no nome da cidade]) chamando os fiéis para a missa ou simplesmente marcando as horas. Outro som característico da época era o sinal sonoro avisando que os portões do colégio seriam cerrados, tocado pontualmente as 12,25 horas, chamando-nos para as aulas.
O tempo passou, e os sons característicos foram substituídos pelos roncos dos motores, barulhos de escapamentos, da televisão, de "home theater", e, desgraçadamente, dos "manos" que equipam os seus carros com altofalantes de fazem vibrar os vidros de um apartamento de 15o andar. Semanas atrás, a VEJA São Paulo trouxe uma matéria sobre os ˜pancadões" de São Paulo e um dos carros apreendidos, um Palio, era equipado com altofalantes que produziam um som igual à da turbina de um jato decolando. Gostaria de saber como o motorista consegue ouvir o som sem ter os tímpanos rompidos.
Umberto Eco, em seu mais recente livro, "O cemitério de Praga", diz, pela boca do personagem, que não considera a música uma arte porque o seu desfrute pode incomodar os demais, pelo volume, o que não ocorre com outras artes, como a pintura, por exemplo, em que o desfrute é exercido pelo órgão da visão e silenciosamente. Senti literalmente na carne o que diz Umberto Edo quando fui submeter-me a uma sessão de fisioterapia por conta de uma lesão no tendão de Aquiles do pé direito: deitado de bruços na maca, com fios ligados ao local da lesão, a pessoa que estava no mesmo ambiente em que eu, também sendo medicado, pôs-se a ouvir música evangélica em seu aparelho celular sem os fones de ouvido no mais alto volume que o aparelho permitia (vou encarnar um Seinfeld: nada contra música evangélica, apenas contra o volume), o que fez com que a fisioterapeuta fosse obrigada a lhe pedir que diminuísse o volume. Sem levar em conta que a invenção do fone de ouvido foi uma grande conquista, pois privatizou o som, permitindo que apenas a pessoa que tem o aparelho ouça o som.
O som de Campinas, especialmente no Cambuí e nas noites do fim de semana (começando às vezes na quinta), está se caracterizando pelo volume e pela péssima qualidade das músicas, na verdade sub-música: sertanojo (sim, sertanojo), pagode e outras inidentificáveis, pois se parecem simplesmente com ruídos. Nenhum desses "manos" nos brinda com música de Frank Sinatra, Beatles, Adele, Dido e outros.
O tempo passou, e os sons característicos foram substituídos pelos roncos dos motores, barulhos de escapamentos, da televisão, de "home theater", e, desgraçadamente, dos "manos" que equipam os seus carros com altofalantes de fazem vibrar os vidros de um apartamento de 15o andar. Semanas atrás, a VEJA São Paulo trouxe uma matéria sobre os ˜pancadões" de São Paulo e um dos carros apreendidos, um Palio, era equipado com altofalantes que produziam um som igual à da turbina de um jato decolando. Gostaria de saber como o motorista consegue ouvir o som sem ter os tímpanos rompidos.
Umberto Eco, em seu mais recente livro, "O cemitério de Praga", diz, pela boca do personagem, que não considera a música uma arte porque o seu desfrute pode incomodar os demais, pelo volume, o que não ocorre com outras artes, como a pintura, por exemplo, em que o desfrute é exercido pelo órgão da visão e silenciosamente. Senti literalmente na carne o que diz Umberto Edo quando fui submeter-me a uma sessão de fisioterapia por conta de uma lesão no tendão de Aquiles do pé direito: deitado de bruços na maca, com fios ligados ao local da lesão, a pessoa que estava no mesmo ambiente em que eu, também sendo medicado, pôs-se a ouvir música evangélica em seu aparelho celular sem os fones de ouvido no mais alto volume que o aparelho permitia (vou encarnar um Seinfeld: nada contra música evangélica, apenas contra o volume), o que fez com que a fisioterapeuta fosse obrigada a lhe pedir que diminuísse o volume. Sem levar em conta que a invenção do fone de ouvido foi uma grande conquista, pois privatizou o som, permitindo que apenas a pessoa que tem o aparelho ouça o som.
O som de Campinas, especialmente no Cambuí e nas noites do fim de semana (começando às vezes na quinta), está se caracterizando pelo volume e pela péssima qualidade das músicas, na verdade sub-música: sertanojo (sim, sertanojo), pagode e outras inidentificáveis, pois se parecem simplesmente com ruídos. Nenhum desses "manos" nos brinda com música de Frank Sinatra, Beatles, Adele, Dido e outros.
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