Pular para o conteúdo principal

Homofobia

Hoje comemora-se o dia mundial da luta contra a homofobia. A data escolhida - 17 de maio - é aquela em que a homossexualidade foi excluída da CID como uma doença. Sim, chegou a ser considerada doença. Mas isso não é pior: chegou a ser considerada crime e gravíssimo.
Quando o Brasil foi descoberto, foi aqui aplicada a legislação de Portugal e eram as ordenações. As que mais tiveram aplicação foram as Filipinas, especificamente, na abordagem aqui feita, o seu Livro V, que definia os crimes e cominava as penas. Em seu Título XII punia os que "commetem o peccado de sodomia, e com alimarias", determinando que o autor fosse "queimado, e feito per fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória, e todos os seus bens sejam confiscados para a Corôa de nossos Reinos postoque tenha descedentes; pelo mesmo caso seus filhos e netos ficarão inhabiles e infames asi como os daquelles que commetem o crime de Lesa Magestade" (foi preservada a grafia original). O "crime" (significativamente chamado de "pecado", mostrando como o Direito Penal estava impregnado de religião, era equiparado a um dos mais graves delitos, o de Lesa Majestade, e a punição consistia em eliminar a pessoa e tudo que pudesse lembrá-la: o fogo tornando o seu corpo em cinza e o vento espelhando-a; não havia sepultura a ser visitada).
Há muito tempo não é mais considerado crime, nem doença, e nesse interregno incontáveis passeatas pelo orgulho gay foram realizadas, mobilizando milhares de pessoas nessa luta. Independentemente da orientação sexual, todas as pessoas, por conta do princípio da isonomia, merecem a proteção penal. Por exemplo, uma prostituta pode ser vítima do crime de estupro - a doutrina penal brasileira proclama isso há décadas.
Porém, há um projeto de lei (PL 122) que criminaliza a homofobia e ele equipara a homofobia ao racismo. Ou seja: se for equiparado ao racismo, será um crime imprescritível e impassível de anistia, graça e indulto, entre outros. Antes eram queimados; agora querem "queimar" quem não os tolera. Não é necessário chegar a tanto. Para utilizar uma expressão de Nelson Hungria: "o disco está sendo lançado além da meta". É necessário respeitar o princípio da proporcionalidade.
Esse projeto provocou a ira dos evangélicos (ira dos evangélicos não é uma contradição entre os termos?), o que fez com que houvesse uma paralisação. Até quando, não se sabe.
Silvio Artur Dias da Silva

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante