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O mito dos massacres nos EUA


Mais um – infelizmente – massacre nos EUA, mais uma vez numa escola, desta vez com a maioria das vítimas sendo crianças. Mais uma vez surge a questão acerca da liberdade de portar arma de fogo, garantida pela 2ª emenda.
            Um breve retrospecto dos massacres nos EUA demonstrará que o problema não deve ter o seu âmbito reduzido apenas à liberdade de possuir arma, tendo, muito mais, conexão com seitas religiosas ou não religiosas.
            No dia 18 de novembro de 1978, 900 (sim, novecentas) pessoas morreram na Guiana, todas seguidoras de Jim Jones, fundador de uma seita chamada Templo do Povo. O motivo de estar fora do território dos EUA foi a investigação lhe moviam as autoridades estadunidenses. O Congresso autorizou que um seu membro, Leo Ryan, fosse à Guiana investigar. Ele, acompanhado de repórteres da rede NBC, foi ao local e ali foram mortos o congressista e três repórteres. Talvez receosos pela represália, houve um suicídio coletivo. Pelo menos foi assim que o fato foi noticiado, porém se demonstrou que muitas pessoas foram obrigadas a ingerir um suco de laranja com veneno.
            No dia 28 de fevereiro de 1993, na cidade texana de Waco, depois de um cerco que durou 51 dias, morreram 76 pessoas da seita “Ramo Davidiano”. No ano de 1997, 39 pessoas seguidoras da seita “Heaven’s Gate” suicidaram-se em Los Angeles.
            Tais massacres, logo se vê, não envolvem o uso de armas. Entrando nesta seara, não se pode deixar de fazer referencia ao massacre de Columbine, ocorrido em 20 de abril de 1999, ocasionando a morte de 13 pessoas e ferimentos em 21. No Instituto Politécnico de Virginia (Virginia Tech), no dia 16 de abril de 2007, houve um ataque perpetrado por um estudante sul-coreano, em que foram mortas 33 pessoas e feridas 21. Não se pode deixar de registrar o ocorrido num cinema, quando era exibida a película “Batman”.
            Fixando-se nesses dois ocorridos em escolas e no mais recente, na cidade de Newtown, aí, sim, houve o emprego de arma de fogo, mas, analisando-se as pessoas que o cometeram constata-se até facilmente que algo de estranho ocorria com elas. Sobre o massacre de Columbine, há dois filmes: “Tiros em Columbine”(“Bowling for Columbine”), de Michael Moore (levou o Oscar de melhor documentário), em que há uma cena constrangedora, na qual ele entrevista Charlton Heston, já alquebrado, que era o presidente da poderosa NRA (“National Rifle Association”): a entrevista é interrompida pelo ator, que se retira do local. O outro filme: “Elefante”, de Gus Van Sant. Os dois rapazes que cometeram o massacre eram tidos por “esquisitões”. Michael Moore claramente quis responsabilizar a associação pelo massacre (ao menos corresponsável), pois ela, a NRA, sempre é apontada como a responsável pela não proibição de venda de armas de fogo.
            No episódio de Virginia Tech, o sul-coreano havia enviado material a uma rede de televisão no qual comparava-se a Jesus.
            No de Newtown, a mãe do matador era “prepper”, um movimento (poderia dizer seita?) que acredita que a qualquer momento o mundo se acabará. Não, não como agora,  que muitos acreditam no fim do mundo segundo uma pseudo profecia maia, ou seja, o fim do mundo com data certa. Para os “preppers” (também chamado o movimento de “survivalist”), o mundo se “acabará” a qualquer momento não apenas no sentido físico, mas sim podendo ser um colapso em que tudo faltará. O canal NatGeo apresenta uma série em que essas pessoas são mostradas: elas acumulam víveres de toda espécie, fazem prática de sobrevivência na selva, aprendem a atirar e outras atividades semelhantes. A mãe do matador tinha armas em casa e ensinava os filhos a atirar. O curioso é que somente após a apontam-se esses dados bizarros dos matadores.     
            Embora muitos digam, não há prova suficiente de que apenas a liberdade de ter arma seja a responsável pelos massacres. Ademais, seria conveniente "dar uma olhada" no estudo que vasculhou a taxa de homicídios por 100.000 habitantes em quase todo o mundo: ao passo que no Brasil, que tem uma lei duríssima que regulamenta o porte de arma a taxa é de 21,0, nos Estados Unidos essa taxa é de 4,2. Não dá nem para comparar. Voltarei ao assunto.

 (Acima, a foto da tragédia de Waco, Texas.)

http://youtu.be/pTeWc1fG1Jk - Um vídeo sobre Jonestown.

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