No dia 26 de setembro, foi ouvida a proprietária do veículo
Vectra prata, de quem ele fora roubado no dia 24 de abril daquele ano, por
volta de 9,15 horas, por dois desconhecidos, um de cor parda, o outro ela não
conseguiu ver; o fato ocorreu em Uberlândia. Apresentou riqueza de detalhes,
bem como documentos (boletim de ocorrência, recibo de quitação de sinistro e
outros).
No
dia seguinte, 27 de setembro, foi expedido ofício pela autoridade policial ao
Juiz de Direito Corregedor e da Polícia Judiciária para que a empresa operadora
de telefonia fixa, Telefônica, fornecesse a relação dos telefonemas feitos para
os números 32313900 e 32311325, instalados na Delegacia Secional, no dia 25 de
setembro, entre as 19,30 e as 20,00 horas; não esclarecia o motivo. Retificou,
por outro ofício, a data: 24 de setembro.
Neste
mesmo dia, o Delegado Seccional de Polícia requereu, por ofício, ao Juízo de
Direito da 1ª Vara Criminal da comarca de Uberlândia, MG, a autorização para a
remoção da cadeia daquela cidade para Campinas, de Flávio Aparecido Garbin[1], a
fim de que fosse interrogado. Justificava o pedido afirmando que se tratava de
membro de “perigosa quadrilha” que “estava agindo no eixo Campinas/Uberlândia”.
O principal motivo: investigar a morte do prefeito. Foi deferida a remoção. A
Delegacia de Repressão a Furtos/Roubos de Veículos de Uberlândia havia feito
uma comunicação acerca do furto daquele Vectra prata, na qual se lê o seguinte:
“há fortíssimos indícios de que Marco Antônio Ferreira esteja envolvido neste
crime (a morte do prefeito), bem como em vários outros roubos de veículos
ocorridos nesta cidade de Uberlândia”[2].
Flávio Garbin foi ouvido, no dia 1° de outubro (embora o termo equivocadamente
tenha a data de 1° de setembro, antes, portanto, da morte do prefeito...) no
interior do Centro de Detenção Provisória Campinas/Hortolândia[3]:
confessou haver matado, durante um roubo a uma farmácia, um sargento da Polícia
Militar, fato ocorrido no mês de maio de 2.001, 19,30 horas; permaneceu
foragido por um mês, tendo sido levado por sua irmã até Uberlândia, “atendendo
convite de seu amigo Paulinho”; no dia 25 de setembro de 2.001 participou de um
roubo a uma casa lotérica naquela cidade, em companhia de “seu comparsa
Daniel”, tendo sido preso e autuado em flagrante delito, ao passo que Daniel
morreu “durante troca de tiros com policiais militares”. Especificamente
indagado onde estava no dia 10 de setembro, entre as 20,00 e 23,00 horas,
respondeu que estava “jantando na residência de uma tia de Paulinho”, negando,
assim qualquer participação na morte do prefeito; afirmou, ainda, nunca ter
subtraído, juntamente com seus “comparsas” Daniel e Paulinho, veículo Vectra na
cidade de Uberlândia.
[1]. Segundo consta do
ofício, Flávio estava com prisão preventiva decretada no processo da 3ª Vara Criminal
da comarca de Campinas (n° 1.060/01), sob a acusação de haver participado de um
roubo seguido de morte; o morto era sargento da polícia militar.
[2]. Este personagem tem a
seguinte história: locou uma casa em Uberlândia, pagou o aluguel adiantado,
vedou o portão da garagem do imóvel soldando uma folha metálica “dificultando a
visão de fora para dentro do imóvel”, mas antes disso o proprietário do imóvel
viu na garagem um Vectra de cor prata, placas GVF 5346, de Uberlândia; tinha
visto, também, que a casa locada estava sem mobília. Depois que o veículo foi
visto, o locatário desapareceu sem avisar. Investigando o fato, descobriu a
polícia mineira que aquele veículo era “clonado”: o veículo original pertencia
a Carlos Armando de Oliveira.
[3]. Nessa época, esse centro
de detenção era reservado aos presos em RDE - regime disciplinar diferenciado
-, regime prisional diabólica e ilegalmente criado por resolução da Secretaria
de Administração Penitenciária, para o encarceramento de presos dos presídios
da região de Campinas que criassem problemas. Quase uma “supermax”, ou “cadeia
da cadeia”.
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