As audiências,
devido ao grande número de pessoas ouvidas em cada uma, bem como ao tempo que
cada depoimento tomava, duravam várias horas. Às vezes, oito horas, com apenas
trinta minutos de intervalo, tempo que mal dava para fazer um lanche frugal. E
nesse intervalo ainda era necessário atender os repórteres, já que não era
permitido a todos que ficassem na sala – unicamente por não comportar um número
tão grande de pessoas (normalmente, compareciam dois promotores de justiça –
nunca compreendi o porquê disso –, o juiz de Direito, a escrevente que apanhava
os depoimentos em estenotipia, o advogado da família, alguns familiares [às
vezes o irmão e a viúva], uma advogada do PT, “Andinho” e dois policiais
militares escoltando-o, eu e uma estagiária da PAJ).
Além disso, era
necessária uma preparação para as audiências: como quase todas as pessoas que
seriam ouvidas em juízo já tinham sido ouvidas ou pela polícia ou pelos
promotores de justiça, eu lia os depoimentos que eles haviam prestado e
comparecia à audiência já sabendo o que seria dito por elas e as reperguntas
que eu faria.
Dessas
testemunhas, umas poucas foram arroladas por mim na defesa prévia. Uma delas
foi o médico-legista que fez a necropsia no corpo do prefeito. Eu já tinha tido
decepção com depoimento de perito, desatento a uma lição do magistral Francesco
Carrara[1],
em processos anteriores na Vara do Júri, e não fiz reperguntas. O professor de
Medicina Legal da Faculdade de Direito da PUCCamp, Antonio Francisco Bastos, já
havia se proposto a esclarecer algumas dúvidas que eu tinha quanto ao
ferimento, mas, desgraçadamente, ele faleceu em pleno curso do processo.
Outra
testemunha que eu arrolei foi a filha de um empresário de Campinas, de nome
Monique, que havia sido sequestrada por Valmir, “Boris” e “Sidão”, no dia 4 de
setembro e que teve o telefone móvel celular monitorado[2].
Eu queria apenas que ela dissesse o que já havia dito ao juiz titular da 4ª
Vara Criminal da comarca de Campinas no processo em que apurava o crime de que
ela fora vítima: que ele tinha certeza de que o banco do Vectra que Valmir
usava era de couro; o do Vectra apreendido era de tecido.
Arrolei também
um policial civil, figura muito polêmica em Campinas, que havia trabalhado nas
investigações, especialmente naquelas que indicaram os quatro rapazes como
matadores do prefeito. Ele me procurou oferecendo-se para ser arrolado como
testemunha, especialmente para dizer que os rapazes haviam confessado a autoria
do homicídio.
[1] .
Carrara relata um caso que defendeu: um jovem bem apessoado apostou numa
taverna que cravaria uma moeda de metal no tampo da mesa de madeira.
Arremessou-a e ela não cravou. Nova aposta, de maior valor, e não se cravou a
moeda. Quando a aposta estava num valor bem elevado, ele cravou a moeda. O
apostador que concorria consigo supôs que ele houvesse trocado subrepticiamente
a moeda por um pedaço de aço, com as bordas cortantes, e foi à polícia. Jovem
foi preso e acusado. Os peritos disseram que era impossível cravar uma moeda na
madeira. Visitando-o no cárcere, ele pediu a Carrara uma moeda igual à que
utilizara e cravou-a em todos os locais da cela que fosse feito de madeira. No
dia do julgamento, o jovem, em sua defesa, demonstrou ser possível o fato cravando
novamente a moeda quantas vezes quis. Daí a crítica de Carrara aos peritos: “os
peritos, fiéis sempre ao seu dever de dizer o que queira o acusador e de
encobrir com suposições sua própria ignorância, proclamaram que o fato era impossível. (“Programa de Derecho
Criminal”, volume 6 [4 da parte especial], § 2.362, página 5, Editorial Temis
Bogotá – itálico no original). Ver capítulo 75.
[2] . Ver
capítulo 73.
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