Houve
uma época em Campinas em que o jogo de “raquetinha” era uma verdadeira febre.
Comecei a praticar esse esporte na chácara do saudoso amigo Carlos Queiroz,
merecidamente apelidado de “Conde” tal era a sua fidalguia, no ano de 1986. Ali
jogavam Padre Chiquinho (pároco da Igreja Santa Rita de Cássia), Acácio Silva, José Augusto Marin, Alfredo Luca,
Roberto Telles Sampaio, Luiz Queiroz (“Zinho”, o melhor jogador de rede que já
vi), Carlinhos Queiroz, Ângelo Carvalhaes e muitos outros. Em dezembro,
indefectivelmente, era realizado o Torneio de Santa Rita, com premiação de
taças e medalhas.
Nas
décadas seguintes, a febre recrudesceu, com o esporte sendo praticado em
academias, pagando-se, óbvio, pelo uso das quadras, e essas mesmas academias –
Vera Cleto, João Soares, All Rackets, e mais tardiamente Tella Tennis –
promoviam torneios. Nos clubes também se praticava o esporte e também eram
promovidos torneios: Cultura, Guarani, além, claro, de Tênis e Hípica. Hoje, o jogo agoniza.
Nos
tempos áureos dessa modalidade, início da década de 2000, foram feitos dois
“desafios” entre os sócios da Hípica e do Tênis que praticavam esse jogo. O
primeiro desafio deu-se na Hípica, em que, após os embates, foi-nos (eu fazia
parte da equipe do Tênis, jogando na categoria “D”) oferecido um lauto
churrasco, daqueles que, para ser totalmente completo, tinha que ter uma van da
Unimed Help de plantão (estou copiando, ao dizer isso, uma frase do famoso
Sergio Porto [aliás Stanislaw Ponte Preta], super famoso humorista que dizia
quase o mesmo da feijoada: “a feijoada só é completa quando há uma ambulância
de plantão”). Não tinha a van, claro, e nem era preciso. O placar final dos
jogos pouco importava: o que valia mesmo era a confraternização, pois, afinal,
nos conhecíamos todos de torneios em academias (um inesquecível era realizado na Academia Vera
Cleto, o famoso inter-firmas - eu jogava pela TecniPiso e o capitão da equipe era o Arthurzinho Borgonovi) de que participávamos.
Chegou
a hora da retribuição e os organizadores do Tênis, para “fazerem bonito”,
resolveram oferecer, em vez de um churrasco, um porco no rolete e para tanto
foi contratado um especialista que havia mais de dez anos preparava essa
iguaria. O encontro dar-se-ia, como se deu, na sede de campo do Tênis.
O
local de preparação do suíno foi atrás do campo de bocha e o trabalho se iniciou pela madrugada. Os jogos foram disputados
nas seis quadras. Terminados os embates, todos se aglomeraram nas imediações do
campo de bocha, adrede preparado com mesas e cadeiras, bem como com uma mesa especial
em que seria colocado o suíno. Eram muitas pessoas, a maioria intrusos que conheciam
a raquetinha somente de tê-la visto na vitrine da loja do Alvinho: nunca
seguraram no “grip” de uma e nunca tinham postos os pés numa quadra. Estando
pronto, o cozinheiro desceu a encosta ajudado por um auxiliar e a
descida mais parecia uma procissão com um andor que, em vez da imagem do santo padroeiro,
trazia o mamífero quadrúpede devidamente assado. Mal foi posto na mesa, houve
um acotovelamento e um ataque à iguaria, que mais parecia uma arremetida de um
bando de piranhas destroçando um boi. Sobraram apenas os ossos e a cabeça e
então “Pradão”, um dos nossos jogadores, para ter algum sabor do porco e já que
não restava outra opção, arrancou um dos olhos e o comeu, afirmando que era
gostoso.
O
churrasqueiro, estupefato, disse que, em dez anos preparando porco no rolete,
aquela foi a primeira vez que viu alguém comer o olho do suíno.
Nunca
mais houve outro desafio.
Comentários
Postar um comentário