Essa
versão foi dada por outro, por assim dizer, “colega” deles, que disse ter
ouvido-a de “Anzo”: os quatro ocupantes do Vectra prata haviam abordado outro
Vectra numa rua do bairro Chácara da Barra, também conhecido por Novo Cambuí, em
que estavam um funcionário público aposentado e um pintor de paredes: ambos tinham ido a
uma casa do primeiro para fazer um orçamento a fim de pintar o imóvel, que era
destinado à locação. As circunstâncias da abordagem frustrada nunca ficaram
esclarecidas e, empreendendo fuga o quarteto, na avenida Mackenzie, que então
era de pista simples, tiveram que diminuir a velocidade por conta do carro – um
Palio – de Toninho, que trafegava na velocidade permitida. Ao conseguirem
ultrapassar, os disparos foram feitos e um deles acertou o prefeito, atravessando
a parte de baixo do antebraço esquerdo, entrando no tórax por esse mesmo lado,
perfurando os pulmões, saindo. O calibre da arma era 9mm. O Vectra prata foi
encontrado e apreendido, sendo periciado. Era produto de um roubo
na cidade mineira de Uberaba.
Dias
antes desse trágico evento, a filha de um empresário de Campinas fora
sequestrada por “Valmirzinho” (e outras duas pessoas) e permanecera em poder
dos seus algozes por várias horas. Ao assumir a defesa de “Andinho”, lembrei
desse caso e assaltou-me uma dúvida: qual carro teria sido utilizado no
sequestro da filha do empresário já que ao menos uma pessoa era comum nos dois
casos: “Valmirzinho”.
Para
inteirar-me da situação, fui ao cartório da 4ª Vara Criminal de Campinas, por
onde tramitavam os autos do sequestro e bingo! o carro era o mesmo: um Vectra
prata. A perícia feita no carro apreendido no processo da morte do prefeito apontava
que os bancos eram de tecido e isso chamou a minha atenção, pois no processo do
sequestro, a filha do empresário descrevera os bancos do Vectra em que estivera
por várias horas eram de couro e a sua conclusão derivava do fato de estar com
um vestido de seda e nas curvas, quase sempre feitas em alta velocidade, ela “deslizava”.
Ao
me ser dada oportunidade de apresentar a defesa prévia no processo da morte do
prefeito, arrolei a filha do empresário como testemunha para ao menos provar
que não eram os mesmos carros utilizados por “Valmirzinho”, e, por
consequência, enfraquecer a tese apresentada pelo Ministério Público para a
morte do prefeito. Ela, evidentemente, ficara traumatizada com o fato do
sequestro, e estava em prantos no dia do seu depoimento na Vara do Júri. O seu
advogado, que eu conhecia de longa data, pediu-me que dispensasse o depoimento
dela, mas, a fim de tranquiliza-lo (e a ela), informei-o que faria somente uma
pergunta: de qual material era o banco do Vectra prata dirigido por “Valmirzinho”
quando ela foi sequestrada? Feita e pergunta, veio a resposta: de couro. Por
que? Porque eu estava usando um vestido de seda e “deslizava” nas curvas.
Esse
foi apenas um dos aspectos para desacreditar a tese oficial e que auxiliou no
desfecho: a impronúncia de “Andinho”, com a qual o Ministério Público não se
conformou, interpôs recurso que foi improvido pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo.
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