Pular para o conteúdo principal

Centro de Convivência Cultural





                Inaugurado em 9 de setembro de 1976, projeto do arquiteto Fábio Penteado, o Centro de Convivência Cultural de Campinas, instalado na Praça Imprensa Fluminense, tornou-se um ícone da cidade. Tinha um teatro subterrâneo (ou interno) e um teatro externo (de arena). Era um verdadeiro “point”: havia um bar – La Recoleta – na face voltada à rua Conceição. No teatro interno eram exibidas peças, colações de grau, festas de homenagens (os cinquenta anos da Faculdade de Direito da PUCCamp foram comemorados ali).
                De uma época para cá, sofreu uma degradação total. Há aproximadamente cinco anos (se a minha memória não estiver falhando) formou-se um grupo para restauração daquele local público. Participei de uma reunião-almoço desse colegiado. Não sei se por coincidência ou não, em seguida foi lavrado um convenio entre a Prefeitura e a Secretaria da Administração Penitenciária do estado para iniciar a restauração. Presos do regime semi-aberto (para gáudio daqueles que querem que todos os presos trabalhem) atuaram na restauração do local, principalmente fazendo o trabalho de pintura (acompanhei os trabalhos porque, desde que me aposentei como Procurador do Estado [2008], habitualmente vou àquele local para ler).
                O “novo” (tão limpo que ficou que parecia novo) logradouro durou pouco: a pichação foi tanta que em algumas partes é impossível enxergar o concreto. Tornou-se um reduto de pichadores, fumadores de maconha e sem-teto. O odor de urina em algumas partes faz as narinas arderem. Há dois bustos ali: um de Júlio de Mesquita (na face da rua Conceição) que foi pichado. Outro busto, na face da rua General Osório, tornou-se uma homenagem a um desconhecido: além de o picharem, os vândalos subtraíram a placa com o nome do homenageado. A sujeira ali produzida é assustadora: garrafas vazias, restos de marmita, saquinhos vazios de salgadinho, principalmente às segundas-feiras.
                Há uma base da Polícia Militar ao lado do Pão de Açúcar Cambuí e talvez seja isso que faça com que os pichadores se sintam mais motivados a conspurcarem o local. Além da PM, viaturas da Guarda Municipal amiúde vão ali para “policiarem”.
                Fala-se agora que a Prefeitura pretende investir alguns milhões de reais na (mais uma) restauração. De nada adiantará, pois os vândalos ali continuarão, pichando impiedosamente, fumando maconha e emporcalhando o local.
                O que falta é respeito, que somente pode ser aprendido com a educação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante