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As várias mortes do prefeito - capítulo 32


O Juiz da Vara das Execuções Criminais ouviu o porteiro/vigia e sua mulher, o que é inusitado, já que não cabe a esse juízo esse tipo de atividade; na audiência estiveram presente quatro Promotores de Justiça, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção de Campinas e os dois advogados da família/municipalidade; a mulher, ouvida em primeiro lugar, disse, em linhas gerais, o seguinte: “em nenhum momento foi pressionada pela polícia; não tem pretensão de deixar a cidade[1], pois tem um filho pequeno; afirma que seu marido lhe contou que, na polícia, um policial teria gritado com ele, dizendo que ‘se a gente se ferrar você se ferra junto com a gente’”; “policiais disseram isso pois acreditavam que o marido da depoente sabia de coisas que não podia contar, sobre a morte do prefeito”.
                        Já o vigia/porteiro, em depoimento mais longo, porém confuso em mais de um ponto, afirmou que “foi ouvido no dia dos fatos; posteriormente, em 22 de novembro de 2001, os investigadores Renato, Fernando e Élcio compareceram na casa da testemunha, determinando que prestasse um novo depoimento. Chegando na delegacia, o investigador de polícia Renato, depois de iniciado o depoimento, disse para a testemunha que “não iria se ferrar por culpa da testemunha”[2]. Segundo ela, o investigador queria que ela afirmasse que tinha “visto duas motos abordando o veículo conduzido pela vítima, bem como que a presença das motos no local fosse concomitante aos fatos”. Ela, porém, “manteve sua posição inicial, no sentido de que somente tinha avistado uma moto conduzindo duas pessoas”. Reperguntado pela Promotoria de Justiça, esclareceu que “a seqüência cronológica dos fatos é a seguinte: ouviu o estampido; a polícia chegou ao local dos fatos; vinte minutos depois da chegada da polícia ao local dos fatos a testemunha avistou a motocicleta referida. No primeiro depoimento, o depoente estava nervoso e receoso das conseqüências, razão porque esqueceu-se de alguns fatos”. Disse que não sabia “afirmar se o fato de somente ter visto a moto após a chegada dos policiais consta de seu segundo depoimento”. Acrescentou: “entre o disparo e a vista da motocicleta passaram-se cerca de 30 minutos”.
                       















[1]. O que se mostrou mentiroso, pois ela, o marido e “o filho pequeno” mudaram-se para lugar desconhecido, não tendo sido ouvidos durante o processo.
[2]. Embora se refira ao investigador, disse a testemunha que o Delegado Osmar Porcelli “estava nervoso”.

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