Um dos personagens que vieram à luz nesse escândalo da compra de vacinas pelo Ministério da Saúde por preços superfaturados foi um auto intitulado reverendo, até então desconhecido. O seu depoimento na CPI da Pandemia teve algumas passagens dignas de registro nos anais da... comédia.
Não seria preciso dizer que ele compareceu amparado por uma liminar deferida monocraticamente (ou seja: por somente um ministro) pelo STF (sim, o tribunal que tem sofrido ataques diários mas que, os mesmos que o atacam nas redes sociais, socorrem-se dele quando precisam...) para que fosse respeitado o direito de não incriminar-se (“nemo tenetur se detegere”), como, aliás, é corriqueiro. Esse religioso conseguiu um milagre: foi recebido no Ministério da Saúde apenas duas horaa após enviar um e-mail, ao passo que a gigante do ramo farmacêutico, a multinacional Pfizer, não obteve resposta para nenhuma das mais de duas dezenas de mensagens enviadas àquele órgão público.
Ele iniciou o seu depoimento lendo aquilo que ele chamou como “uma apresentação do reverendo”. Depois de ler algumas páginas, sempre referindo-se a uma terceiro pessoa (“o reverendo”), um senador indagou:
- quem é esse reverendo?
Outro senador respondeu:
- é ele mesmo.
Ou seja: ele estava referindo-se a si como se fosse outra pessoa (seria o seu “alter ego”?). A tentativa de falcatrua teria sido praticada por outra pessoa e não ele?
Nesse momento lembrei de um episódio que se deu quando eu conversava com um preso que eu estava defendendo pela PAJ Criminal e às perguntas que que fazia ele respondia usando o verbo na terceira pessoa do singular.
- você entendeu o que eu expliquei?
- entendeu...
Era a linguagem do presídio.
Lembrei também que o Rei Pelé durante uma época, quando era entrevistado, respondia referindo-se ao Pelé, nunca usando a primeira pessoa do singular.
O ponto culminante do depoimento aconteceu quando um senador governista, apelando ao senso de religiosidade do “reverendo”, pediu-lhe que mostrasse arrependimento fazendo “um MEIA CULPA”. Ele, aparentemente, não fez meia, mas sim inteira: pediu perdão aos senadores, aos brasileiros, e desatou a chorar. Como estava usando máscara, ficou mais difícil perceber se eram lágrimas de crocodilo...
As sessões da CPI têm mostrado um detalhe, entre outros: ao tempo em que o general da banda era o ministro, o Ministério da Saúde era uma autêntica “casa da mãe joana”...
Uma música que marcou época, chamada “A Praça”, de autoria de Carlos Imperial, gravada por Ronnie Von no ano de 1967, e que foi um estrondoso sucesso, contém uma frase que diz assim: “sentei naquele banco da pracinha...”. O refrão diz assim: “a mesma praça, o mesmo banco”. É impossível imaginar uma praça sem bancos, ainda que hoje estes não sejam utilizados por aquelas mesmas pessoas de antigamente, como os namorados, por exemplo. Enfim, são duas ideias que se completam: praça e banco (ou bancos). Pois no Cambuí há uma praça, de nome Praça Imprensa Fluminense, em que os bancos entraram num período de extinção. Essa praça é erroneamente chamada de Centro de Convivência, sendo que este está contido nela, já que a expressão “centro de convivência (cultural)” refere-se ao conjunto arquitetônico do local: o teatro interno, o teatro externo e a galeria. O nome Imprensa Fluminense refere-se mesmo à imprensa do Rio de Janeiro e é uma homenagem a ela pela ajuda que prestou à cidade de Campi...
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