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Carlos Gomes e Carlos Drummond de Andrade



 
      (Antonio) Carlos Gomes, nascido em Campinas no dia 11 de julho de 1836 e falecido em Belém (Pará) no dia 16 de setembro de 1886, foi o mais importante compositor brasileiro de ópera. Tornou-se mundialmente conhecido, tendo se apresentado em Milão, Itália, por conta de sua mais expressiva obra, “O Guarani”. Em sua terra natal há duas praças em sua homenagem: uma leva o seu nome, a outra o nome do estado em que ele, “exilado”, faleceu - largo do Pará. Numa das praças centrais há uma estátua homenageando-o, em que ele segura uma batuta numa das mãos, pois, como se sabe, era maestro.
      Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, MG, aos 31 de outubro de 1902, tendo morrido no Rio de Janeiro aos 17 de agosto de 1987. É considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX. No Rio de Janeiro há uma estátua na orla em sua homenagem, embora ele fosse mineiro – mas em matéria de arte, não existe fronteira, nacionalidade ou naturalidade.
      O que existe ligando esses dois importantes artistas, ou melhor, as suas estátuas?
      No “apagar das luzes” do ano de 2013, um casal foi surpreendido por uma câmera de vigilância “pichando” a estátua de Drummond no Rio de Janeiro; curiosamente, o “pichador” era conterrâneo de estado do poeta. Ouvido em declarações no T.C.O. (termo circunstanciado de ocorrência, pois o crime classifica-se como “de menor potencial ofensivo”, por forçla da Lei n° 9.099/95), afirmou ter querido impressionar a sua namorada (a câmera realmente mostra uma mulher acompanhando-o). Se ele fizesse um “streaking”, ou “chispada pelada”, que consiste no fato de dar “uma chispada” nu, e também é infração penal de menor potencial ofensivo, talvez ela ficasse mais impressionada. Ou não... se é que vocês me entendem.
      No alvor do ano de 2014, numa reportagem do Jornal Regional da BandCampinas, que noticiava a criação de um “turismo a pé” em Campinas, praticado em outras cidades do Brasil (São Paulo, por exemplo) e do mundo, a repórter mostrou a estátua de Carlos Gomes e perguntou a um rapaz que por ali passava se ele sabia de quem era aquela estátua. Demonstrando cabal ignorância, ele respondeu que deveria ser de alguém muito importante, pois até estátua em sua homenagem existia. A de Campinas não foi “pichada”.
      O elo entre as estátuas é mais profundo, pois o desrespeito e o desconhecimento têm muito a ver com a situação atual do Brasil. “Os pais são os primeiros professores”, proclama o velho ditado popular – é no aconchego do lar que as pessoas a partir da mais tenra idade começam a aprender e a partir do aprendizado passam a praticar o respeito. Essa aquisição de conhecimento prossegue num dos mais efetivos meios de controle social, a escola, em que mais e mais conhecimentos, muitos dos quais específicos, passam a ser expostos (quiçá transferidos) às pessoas.
      No momento atual em que o país se encontra, em que muitos pais pouco se importam em ensinar aos filhos e em que a escola pública encontra-se em sua pior fase, com ideias “revolucionárias”, uma das quais a de aprovação automática, outra, a não reprovação e mais invenções desses pedagogos de gabinete que nunca estiveram numa sala de aula, a falência do ensino produz esses seres. E quem não tem conhecimento não tem memória e quem não tem incutido em seu espírito o respeito, não pode ter atitude diferente das relatadas aqui.
      Apenas para lembrar, um dos grandes portugueses, Fernando Pessoa, é homenageado em Lisboa com uma estátua no bairro Chiado, coincidentemente defronte a um café chamado “A Brasileira” – ali formam-se filas de turistas para fazer uma foto ao lado do homenageado.
      Para encerrar, algo que já escrevi aqui: num país em a taça Jules Rimet, que somente seria entregue pela FIFA ao país cuja equipe fosse tri-campeã, feito do Brasil em 1970, foi furtada e derretida, o que se pode esperar?


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