Gérson de Oliveira Nunes foi um dos grandes jogadores brasileiros. Seu apelido era “canhotinha de ouro”. “Vestiu as camisas” – como diriam os comentaristas esportivos – de times como Flamengo, Botafogo, Fluminense e São Paulo. Fez parte da famosa seleção brasileira de futebol que, no ano de 1970, no México, abocanhou pela terceira, e derradeira, vez a Taça Jules Rimet. Para os que não lembram, a equipe nacional que vencesse a competição por três vezes ficaria com a taça definitivamente; porém, a alegria durou pouco, pois ela, estando guardada na sede da CBD – Confederação Brasileira de Desportes -, foi surripiada e derretida. Nem essa prova da superioridade do futebol brasileiro foi respeitada, como, de resto, incontáveis outros símbolos são amiúde desrespeitados. Aliás, o furto demonstrou que o brasileiro é superior aos outros povos neste quesito: o desrespeito ao passado.
Num
dado momento de sua exitosa carreira, quando corria o ano de 1976, o craque foi
contratado para ser “garoto-propaganda”
de uma marca de cigarro chamada Vila Rica – na verdade, um “estoura-pulmões” -,
fartamente veiculada nas emissoras de televisão. Encerrando a sua fala, com um
forte sotaque carioca, o futebolista dizia que gostava de levar vantagem em
tudo. Bastou para tornar-se um mote, um chavão, repetido à exaustão e
convertido num figura de linguagem para demonstrar a pessoa que gosta de tirar
proveito de tudo; num ditado popular carioca, “farinha pouca meu pirão
primeiro”.
A
agência de propaganda que montou a campanha e nem o craque contavam com essa
virulização, essa propagação infindável e cabe uma explicação ao crescimento imenso:
ela encarnava exatamente a forma como o brasileiro se punha – e ainda se põe perante
os seus concidadãos - na vida social: querendo levar vantagem em tudo. Seja
“furando fila”, obtendo carteira de estudante falsa para pagar meio ingresso,
ou, no mesmo quesito, mentindo sobre a idade, estacionando irregularmente em
vagas reservadas a deficientes e/ou idosos, não devolvendo troco dado por
engano a mais: há uma infinidade de condutas que se amoldam à propaganda do
cigarro.
Um
livro escrito há tempos, chamado “Sociologia da corrupção”, mostra as diversas
e incontáveis facetas da corrupção, começando pela que assola os órgão estatais
– e cujo exemplo monumental todos assistem agora com as revelações dos achados
da operação Lava-Jato -, em que o partido que governava o país [Partido dos
Trabalhadores] montou uma rede tentacular de assalto ao erário. Repetiu, com considerável
aumento, aquilo que houvera feito no “mensalão”, as lá a desculpa era outra:
precisava dos parlamentares “comprados” para aprovar projetos que beneficiariam
a parcela mais pobre da população. Quanto ao “petrolão”, que ora se constata,
serviu para “bancar” a campanha eleitora da presidente e de outros candidatos,
o partido não deu explicação, apenas repetindo o ramerrão de que somente
recebeu doações lícitas e que todas foram declaradas à justiça eleitoral. Algumas
palavras devem ser ditas a respeito desse partido:
passou mais de duas décadas prometendo a ética na política e quando teve a
oportunidade, assaltou os cofres sem dó nem piedade.
A
escada se varre de cima: a partir dos exemplos dados por esse partido político,
fica difícil, impossível até, revogar a lei de Gérson.
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