Minha
família veio de mudança para Campinas no dia 4 de fevereiro de 1964 e eu era
ainda um adolescente. Fomos obrigados a sair da pequena cidade em que morávamos
– Jaú – porque ali não havia nenhuma unidade de ensino superior: a mais próxima
era na vizinha cidade de Bauru. Com os filhos precisando “sair de casa” para
estudar, a única opção foi a mudança. E esta veio como a realização de um
sonho: afinal, aqui passávamos muitas férias, pois aqui moravam os meus avós
maternos, bem como alguns tios e primos, que mais pareciam amigos do que
parentes. Ademais, em Campinas havia bonde e prédios com elevador. Lembro da
linha do bonde Guanabara 4 (o mesmo número do ônibus urbano, da única empresa –
CCTC [Companhia Campineira de Transportes Coletivos]), cujo ponto final era na
avenida Barão de Itapura, ao lado da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora. O
Edifício Catedral, com a frente para a avenida Francisco Glicério e ao lado do
largo da catedral foi um dos primeiros a ter elevador. Havia, também, aqui,
pastelaria – e de propriedade de chineses. Era uma delícia comer um pastel ou
uma esfiha, bebendo um refrigerante de maçã da Vanucci, ou um Crush. Havia
ainda as Lojas Americanas na Rua 13 de Maio e o charme de tomar um lanche ali:
um clube lasa, por exemplo, ou mesmo um cachorro quente, que não era feito com
a quantidade absurda de acompanhamentos, como milho verde, por exemplo. Esse
centro da cidade hoje se tornou um local de lojas populares (antes, havia um
“camelódromo” enorme), com algumas praças tomadas por sem-teto: a defronte o
fórum e a da catedral servem como exemplos.
Meus
avós maternos moravam num casarão (que não existe mais) na Rua Duque de Caxias,
bem defronte à Praça Sylvia Simões Magro (não tinha então esse nome), conhecida
na época (e ainda hoje) por Largo São Benedito. Frequentávamos muito a praça e
nela, como nas outras, havia um zelador, que, munido de um apito, trilava à
vista da menor irregularidade – pisar na grama, por exemplo. As praças eram
muito bem conservadas.
Com
mais de um milhão de habitantes, Campinas ficou uma cidade feia, suja, sem
atrativos. Isso me doeu mais ao visitar a cidade de Mendoza, na Argentina. Com
pouco mais de duzentos e cinquenta mil habitantes, a cidade surpreende por
alguns detalhes. O número de praças, por exemplo: são cinco, enormes, limpas e
com fontes. A maior é a Independência. Há um parque enorme, muito bem
conservado, chamado Parque Del Aborigen, lindo. E, no alto de um morro, há um
monumento ao exército dos Andes: nesse local tem-se uma vista ampla,
avistando-o inclusive a Cordilheira dos Andes. Há um aquário municipal, bem
como um serpentário. As atrações turísticas fizeram com que fosse criado o
passeio em ônibus aberto, o famoso “sightseeing”.
Era
indefectível a comparação entre as praças: as de Campinas estão degradadas,
sujas, e o único cuidado que se tem com elas é a varrição (durante o processo
que apurou a morte do prefeito Toninho do PT mostrou-se que a limpeza urbana é
um dos maiores focos de corrupção [a morte do prefeito Celso Daniel também]).
Símbolo da degradação das praças campineiras é a Imprensa Fluminense, mais
conhecida por “centro de convivência cultural”: revitalizada há pouco mais de
um ano, está toda pichada e o lixo abunda ali. Para não fazer jus ao provérbio
espanhol “se hay gobierno, yo soy contra”, a culpa da sujeira não é totalmente
do poder público: é também do povo, que não tem nenhum respeito. Nisso, o
Estado tem culpa pois não dá a educação que a faça respeitar os bens públicos.
Aproximando-se
a eleição para prefeito e vereadores, fica a pergunta: o que fizeram com
Campinas?
Sempre que vejo a falta dr estrutura em nossa cidade , lembro que nas aulas a chamava de " sepulcro " . Tantos anos se passaram e ela só piorou, não temos um parque descente, teatro com infraestrutura só no Shopping, museu que valha a pena visitar, nem pensar ... E tinha tudo pra se tornar uma cidade referência! Sem contar que nem hospitais particulares, temos pra atender com um minimo de conforto a população atual... Triste o que fizeram com ela, até as Andorinhas se foram ...
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