Parece conversa de saudosista dizer que, em tempos idos, tudo era melhor. Tem-se a impressão que muitas pessoas, ao atingirem uma certa idade, começam a pensar assim. Se nos tempos idos tudo era melhor não sei; mas era diferente. Talvez a diferença faça com que pareça melhor.
No mundo do crime também havia uma diferença. Quando entrava em cena um novo “marginal”, a imprensa campineira logo inventava uma alcunha para ele e a sua frequência nas manchetes era constante. O primeiro de que eu me lembro foi apelidado de “Bandido Mascarado”. Eu ainda não morava em Campinas, mas, com a maior parte da família aqui residindo, era comum durante as férias ficar alguns dias por aqui, o que me facilitava o acesso às informações. A cidade então terminava no bairro Nova Campinas, de um lado; de outro, no batalhão da Polícia Militar. Esses locais, por serem ermos, eram os preferidos pelos namorados (desnecessário dizer que não existia aquele “cinturão de motéis” no entorno da cidade). O criminoso atacava esses casais, matando o jovem e estuprando a mulher. Vários fôramos ataques, sem que houvesse qualquer pista sobre a sua identidade. Todavia, corria um boato dizendo que ele era filho de um prestigioso médico, que também era deputado estadual, tendo chegado a presidir a Assembleia Legislativa.
Tempos depois, talvez duas décadas, já morando em Campinas e trabalhando num cartório criminal, a mídia impressa continuava no afã de colocar apelidos nos “novos” criminosos. Assim vieram Bertão, Eloi Japonês, e outros menos conhecidos, mas que, a cada incursão delituosa, estampavam as manchetes dos jornais. Às vezes agindo em conjunto, às vezes em separado, estavam sempre atacando o patrimônio alheio (sim, estes, ao contrário do “Bandido Mascarado”, não praticavam crime contra a vida nem crime contra a liberdade sexual: cometiam furtos e especialmente roubos [este é o crime de furto praticado mediante violência ou grave ameaça].
Como os crimes praticados por essas pessoas eram frequentes, a sua permanência na mídia era constante. Foram muitos e o nome de cada um (na verdade, apelido), bem como o "modus operandi", caberia melhor num livro, mas dá para citar alguns: Pé Sujo, Corvão, Pidão, o Ladrão da Corda. Sobre este cabem algumas palavras sobre a forma de agir: ele tirava algumas telhas da casa, entrava no forro, amarrava a corda num caibro, descia ao interior da casa e subtraía dali o que lhe interessava, deixando o local: tudo isto com os moradores dormindo.
Com o passar do tempo, porém, com a nova geração de deliquentes aconteceu aquilo que Andy Wharhol previu há muito tempo: todo mundo seria famoso por 15 minutos. Talvez nem isso. O último remanescente da geração de famosos foi “Andinho”, que atingiu o ápice de sua fama ao ser acusado de participar da morte do prefeito Toninho, nos idos de 2001. Note-se que ele não foi acusado de ter matado o prefeito, mas sim apenas de estar presente no veículo – um Vectra prateado – junto com a pessoa que fez os disparos que vitimaram o prefeito.
Enquanto durou o processo de 2002 a 2008, quando foi impronunciado, era constante a sua presença na mídia. Mas a sua popularidade também feneceu.
Uma música que marcou época, chamada “A Praça”, de autoria de Carlos Imperial, gravada por Ronnie Von no ano de 1967, e que foi um estrondoso sucesso, contém uma frase que diz assim: “sentei naquele banco da pracinha...”. O refrão diz assim: “a mesma praça, o mesmo banco”. É impossível imaginar uma praça sem bancos, ainda que hoje estes não sejam utilizados por aquelas mesmas pessoas de antigamente, como os namorados, por exemplo. Enfim, são duas ideias que se completam: praça e banco (ou bancos). Pois no Cambuí há uma praça, de nome Praça Imprensa Fluminense, em que os bancos entraram num período de extinção. Essa praça é erroneamente chamada de Centro de Convivência, sendo que este está contido nela, já que a expressão “centro de convivência (cultural)” refere-se ao conjunto arquitetônico do local: o teatro interno, o teatro externo e a galeria. O nome Imprensa Fluminense refere-se mesmo à imprensa do Rio de Janeiro e é uma homenagem a ela pela ajuda que prestou à cidade de Campi...
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