Este é o título do mais recente livro do Prêmio Nobel de literatura, o peruano Mario Vargas Llosa. Como muitos de seus livros, trata-se de um romance histórico ambientado na Guatemala na época do golpe de Estado perpetrado por Carlos Castillo Armas. Como todos os seus livros, fascinante.
Tomei de empréstimo o título para usá-lo aqui pois efetivamente os tempos presentes são ásperos: são aspérrimos. Duas ocorrências recentes demonstrarão isso.
1ª] Morte na lotérica: numa casa de apostas (na verdade, as casas lotéricas não são mais casas de apostas e sim mini bancos: as filas imensas que se formam são para pagamento de contas ou transferências de dinheiro de uma conta para outra ) um idoso (79 anos) que estava na fila sofreu um desmaio, indo ao chão; chamado o SAMU, os paramédicos constataram a morte e acionaram o serviço funerário para recolher o corpo. cobrindo-o com aquele papel aluminizado; enquanto as pessoas do serviço funerário não chegavam a lotérica continuou funcionando como se nada houvesse ocorrido, com o – como dizia a música – estendido no chão.
2º] Candidato a ator: Jeff Machado havia atuado em uma novela da TV Record e ansiava alçar-se à condição de ator e, de preferência, atuando em grandes produções. Conheceu um ex-produtor da Rede Globo, que havia sido desligado do grupo, que, a título de promessas que nunca seriam cumpridas, passou a cobrar do candidato algumas quantias a título de ajudá-lo a realizar o seu sonho. Numa noite em que estavam juntos, com mais duas pessoas, dopou-o, e, antes que ele desacordasse, obteve as senhas dos cartões bancários, matando-o por asfixia. Homicídio dupla ou triplamente qualificado, classificado como crime hediondo. Colocaram o corpo num baú que foi enterrado num casebre a dois metros de profundidade, e o buraco foi concretado. O crime foi descoberto graças aos cachorros do candidato a ator, que eram “chipados” e foram abandonados pelos assassinos.
Como se vê, são tempos mesmo ásperos os que vivemos presentemente.
A BBC publicou tempos atrás um interessante artigo cujo título é o seguinte: “O que aconteceria se pudéssemos lembrar de tudo” e “lembrar de tudo” diz com a memória. Este tema – a memória- desde sempre foi – e continua sendo – objeto de incontáveis abordagens e continua sendo fascinante. O artigo, como não poderia deixar de ser, cita um conto daquele que foi o maior contista de todos os tempos, o argentino Jorge Luis Borges, denominado “Funes, o memorioso”, escrito em 1942. Esse escritor, sempre lembrado como um dos injustiçados pela academia sueca por não tê-lo agraciado com um Prêmio Nobel e Literatura, era, ele mesmo, dotado de uma memória prodigiosa, tendo aprendido línguas estrangeiras ainda na infância. Voltando memorioso Funes, cujo primeiro nome era Irineo, ele sofreu uma queda de um cavalo e ficou tetraplégico, mas a perda dos movimentos dos membros fez com que a sua memória se abrisse e ele passasse a se lembrar de tudo quanto tivesse visto, ou mesmo (suponho) imaginado...

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