Um mês após a morte do prefeito foi elaborado o laudo, pela
polícia científica, de exame de local; nesse documento, inicialmente é descrito
o local em que se deu a morte, e, em seguida, a forma como a vítima foi
encontrada. Descreve os ferimentos (embora apenas um projétil tenha atingido a
vítima, ele entrou e saiu do corpo, entrando novamente e novamente saindo) da
seguinte forma: “ferimentos decorrentes de entrada oblíqua de projétil
disparado por arma de fogo na região látero-posterior do braço esquerdo, sem
zona de chamuscamento, esfumaçamento ou tatuagem, apresentando orla de
contusão, o que indica reação vital quando da entrada do projétil. O projétil
transfixou o braço, saindo pela região axilar tendo entrado novamente próximo
da axila esquerda da vítima, causando ferimentos internos letais e saindo na
região escapular direita, nas costas da vítima”. Acrescentava que “a descrição
pormenorizada destes ferimentos, bem como de outros possivelmente existentes, ‘
a ‘causa mortis’, serão objetos de laudo à parte, a ser elaborado pelo IML”. Na
“conclusão”, o laudo descreve a dinâmica dos fatos: “trafegava o veículo Fiat
Palio de placas DBJ de Campinas pela faixa de rolamento direita da avenida
Mackenzie, no sentido Shopping Iguatemi – Rodovia Dom Pedro I, quando na altura
da concessionária Adara, próximo à lombada redutora de velocidade, teve seu
vidro posterior esquerdo atingido por um projétil disparado por arma de fogo,
projétil este que após estilhaçar o vidro da janela da porta traseira esquerda,
atingiu a região posterior esquerda do encosto de cabeça do banco dianteiro
esquerdo. Após a perfuração, o projétil seguiu até a região posterior direita
do encosto vindo a atingir o parafuso de fixação da haste direita do encosto.
Esse primeiro disparo apresenta orientação ligeiramente de cima para baixo e da
esquerda para a direita e ligeiramente de trás para a frente. Após o retro
descrito, ocorreu o segundo disparo, seguindo orientação da esquerda para a
direita, e ligeiramente de cima para baixo, que atingiu a região
látero-posterior do braço esquerdo da vítima Antonio da Costa Santos. Após a
entrada o projétil transfixou a região axilar do braço, entrando novamente pela
axila esquerda, atravessando costela, pulmão, vasos e saindo pela região escapular
direita nas costas. Após transfixar o corpo da vítima, o projétil atinge a
região direita anterior do encosto do banco dianteiro, sai pela lateral deste
mesmo encosto e entra na lateral esquerda da região posterior do banco
dianteiro direito, atravessando-o e caindo na região posterior direita do
assoalho do veículo, atrás do banco dianteiro direito. O terceiro disparo
atinge a região mediana anterior do quadro da janela da porta dianteira
esquerda transfixando-o e alcançando a coluna anterior esquerda onde sofre
trajeto ascendente pelo interior da coluna vindo nessa a se alojar, revelando
orientação da frente para trás e ligeiramente da esquerda para a direita e
também ligeiramente de baixo para cima”. O laudo vinha ilustrado com 51
fotografias.
O laudo de exame de corpo de delito,
necroscópico, registrou “quatro ferimentos do tipo pérfuro-contuso que são
demonstrados no gráfico anatômico como “A” a “D”, em ordem alfabética. Os
ferimentos “A” e “B” são de entradas de projéteis de arma de fogo e suas
características são: “A” tem formato arredondado, mede 0,9 cm de diâmetro, tem
orla de enxugo[1]
e localiza-se na região posterior e terço médio do braço esquerdo; “B” tem
formato alongado, mede 2,0x1,5 cm e localiza-se na lateral esquerda do tórax,
próximo à axila. Os ferimentos “C” e “D” são de saídas de projéteis de arma de
fogo e suas características são: “C” tem formato alongado, mede2x1 cm e
localiza-se na região medial e terço proximal do braço esquerdo; “D” tem
formato mais ou menos arredondado, bordas um pouco irregulares, mede
aproximadamente 0,9 de diâmetro e localiza-se na região escapular direita”.
Registra ainda o laudo que no exame interno constatou-se: 1°º] o projétil que
penetrou em “A” transfixou braço esquerdo e saiu por “C”; 2°] o projétil que
penetrou em “B” muito provavelmente é o mesmo que transfixou o braço esquerdo;
em sua trajetória transfixou terceiro arco costal esquerdo, pulmão esquerdo,
aorta, vasos do hilo pulmonar direito, pulmão direito, provocou hemotórax
bilateral volumoso, saiu da cavidade pelo ferimento “D”; sua trajetória foi da
esquerda para a direita, levemente de cima para baixo e levemente da frente
para trás; 3°] mas cavidades cranianas e abdominal, nada de interesse médico
legal foi encontrado”. Foi feito exame laboratorial toxicológico das vísceras,
negativo inclusive para álcool etílico. A conclusão foi a seguinte: “vítima
faleceu em conseqüência de anemia aguda devido a perfurações pulmonares e da
aorta por projétil de arma de fogo. A trajetória do projétil está descrita
acima”.
(Capítulo do livro "As várias mortes do prefeito", a ser publicado.)
(Capítulo do livro "As várias mortes do prefeito", a ser publicado.)
[1]. Segundo Hélio Gomes, (“Medicina
Legal”, 24ª edição, Freitas Bastos, Rio, página 504) “a orla de enxugo é uma
zona que se encontra nas proximidades do orifício, de cor quase escura,e
produzida pela pele que se adaptou às faces da bala, limpando-a dos resíduos de
pólvora”.
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