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Liberté, egalité, fraternité




      Este, por assim dizer, era o lema da Revolução Francesa (1789-1799), um dos mais importantes movimentos da História e que, com as suas conquistas, influenciou diversos países do mundo. Diziam alguns (e dizem até hoje) que a “ata de nascimento da primeira geração dos direitos civis e políticos” (em sentido amplo, “direitos humanos” – é com receio que eu uso esta expressão, pois aqui no Brasil ela se tornou sinônimo de “direitos de bandidos”, segundo uma visão ignorante de alguns “formadores de opinião” [entenda-se “mídia ignorante”]) está na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de julho de 1789. O seu artigo 1°afirma que “os homens nascem e são livres e iguais em direitos”: está aí o princípio da isonomia ou da igualdade de todos perante a lei (“direitos”). Há mais, muito mais.
      Por outro lado, a Europa vem, desde a queda do Muro de Berlim (1989) e o “desmembramento” de vários países (Tchecoslováquia, Iugoslávia, a própria Alemanha), sofrendo diversas transformações, a começar pelo surgimento da Zona do Euro e da adoção de uma moeda única. A situação financeira de alguns países tem feito com que povos de outras nações queiram emigrar para países europeus. Este (praticamente) êxodo tem mobilizado opiniões contrárias e favoráveis de pessoas e instituições. E o argumento contrário não baseia-se apenas no fato – como se alega quase sempre – de que o imigrante ocupa um posto de trabalho que naturalmente seria destinado a um nacional. O argumento principal baseia-se no fato de que o imigrante quer impor os seus valores no país que o acolheu.  Um filme francês (“a vida imita a arte e não o contrário", segundo Oscar Wilde) chamado “Entre os muros da escola” retrata com perfeição essa situação. A principal cena é esta: o aluno, membro de uma família islâmica, estava com mau desempenho na escola; a sua mãe é chamada, mas como não falava francês levou outro filho, que falava a língua, para acompanhá-la e fazer a tradução. Só que ele traduz, a propósito, tudo de forma errada para enganar a mãe (e talvez evitar a punição do irmão). Outro episódio, este real, ocorreu também naquele país: a proibição de que as mulheres muçulmanas usem o véu que esconde o rosto, especialmente nas escolas.
      Deve ser registrado que o êxodo atinge outro continente, no caso o americano, e é de todos conhecido o muro que os EUA construíram na sua fronteira com o México.
      Diante desse quadro, de afluência incontrolada de estrangeiros, alguns países europeus têm reagido e dentre eles está a própria França, que tem deportado imigrantes ilegais. Dois antes do ataque à revista de humor havia sido negada sepultura, no cemitério de uma pequena cidade francesa, a uma criança por ela ser cigana. Houve um clamor popular e o corpo foi inumado em outra cidade. Um partido político francês “de direita” posicionou-se claramente contra os imigrantes. Na Alemanha há um movimento contra aquilo que eles chamam de “islamização” da Europa. Na véspera do ataque houve em Berlim uma passeata contra esse movimento, e, pois, a favor da imigração de islamitas.
      Tudo isso mostra o quadro em que hoje vive a Europa e não se trata apenas, como possa parecer, de dois países (França e Alemanha): a Espanha é constantemente “invadida” por povos subsaarianos, que. “amontoados” em barcos (iguais ou piores do que os cubanos que literalmente se atiravam em balsas no mar caribenho), pretendem atingir solo espanhol. A Itália também tem sofrido com o problema e a última moda é esta: a tripulação da embarcação ao pé da letra abandona o barco com centenas de pessoas, em rota de colisão com a costa: em apenas um mês foram três casos.
      Nada disso porém justifica o que terroristas covardes fizeram com os jornalistas, cartunistas e policiais ao atacar o prédio da revista Charlie Hebdo. Embora eles sejam franceses de origem argelina, a ação foi realizada para "vingar" o profeta que fora ofendido em charge da revista. Ou seja: são islamitas e embora o Corão não propague a violência, na interpretação deles, sim. Na terra da "liberté", a intolerância de alguns quis castigar a liberdade, mas de opinião.

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