Pular para o conteúdo principal

Assaltante de bancos



                                    Melhor que roubar bancos é fundar um. O que é roubar um                                                             banco comparado a fundar um.
                                              Bertolt Brecht

            Ele foi um dos maiores “assaltantes” de banco em sua época, anos 70 e 80, atuando sempre em dupla com outro que, à semelhança dele, tornaram-se famosos. O seu nome era curioso: o prenome totalmente diferente e o sobrenome era mais utilizado como primeiro nome de mulher. Um dos “assaltos” aconteceu num dia de pagamento dos funcionários da Prefeitura de Campinas. No térreo, lado da rua Benjamin Constant, estava instalada a agência do Banespa e no dia do pagamento desde cedo os “barnabés” formavam fila defronte a agência para sacar em espécie o salário. Naquele dia de pagamento, compareceram na agência logo cedo, antes de sua abertura, dois policiais militares, que se apresentaram ao gerente, afirmando que tinham fazer a segurança. A entrada lhes foi franqueada. Tão logo ganharam o seu interior, abriram as maletas 007 que portavam, dela sacando armas e anunciando o “assalto”. Detalhe: não consta do fardamento da PM maleta 007... Roubaram tudo o que havia.
            Em sua defesa atuei em dois processos, um na 1ª Vara Criminal, em que ele era acusado de ter cometido o crime de receptação dolosa e havia sido condenado, com a imposição da pena mínima: 1 ano. Como ele era menor de 21 anos na data do fato, o prazo prescricional era reduzido de metade e havia ocorrido essa extintiva da punibilidade. Requeri-a e o magistrado decretou-a. Talvez por esse resultado, fui contratado para atuar em outro processo, desta vez na 2ª Vara Criminal de Campinas e era referente a dois roubos a banco cometidos no mesmo dia, distantes alguns minutos um do outro, e na mesma rua – Paula Bueno -, em agências próximas. Fui examinar o processo: havia uma nulidade, pois um dos prazos de defesa não havia sido respeitado. Impetrei uma ordem de “habeas corpus” ao Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, requerendo que o processo fosse anulado desde o início e obtive êxito: a ordem foi concedida por unanimidade.
            Ele estava foragido do Brasil, acredito que no Paraguai (nunca perguntei onde, como sempre fiz) e aquele tempo a comunicação entre nós era feita por meio telefônico, creio que telefonia rural: a voz era audível e depois enfraquecia.
            Por razões que não vêm ao caso agora, deixei as causas e nunca mais ouvi falar desse réu até que, muito tempo depois, vi “um santinho” de propaganda eleitoral, e, susto: ele era candidato a um cargo eletivo. Em seu minicurrículo estava escrito que ele cursava uma faculdade de direito dentre as inúmeras de Campinas e região. Nada constava acerca de sua vasta folha de antecedentes criminais.
            Ao ver a sua pretensão política, logo pensei: está no caminho certo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Influencers

A nova era trouxe, além das novidades diárias, representadas pelas redes sociais, um novo vocabulário no qual há o (a) “influencer”. Como já li em alguma parte mas não me recordo precisamente em qual, antigamente “influencer” era o pai, a mãe, o professor, o pároco, o pastor, pessoas que, de uma forma ou de outra, pelo conhecimento e proeminência que possuíam, conseguiam influenciar um sem número de pessoas. Tome-se por exemplo o professor: pelos ensinamentos transmitidos aos alunos, ele consegue influenciá-los. Na atualidade, “influencers” são muitas vezes pessoas que se tornam conhecidas por besteiras que realizam e publicam nas redes sociais, valendo notar que algumas delas mal sabem se expressar no idioma pátrio. Pode-se começar com um bom exemplo: uma dessas figuras, numa “live”, defendeu que no Brasil, desconhecendo que a legislação proíbe, fosse, por assim dizer, legalizado o partido nazista, pois assim, na sua visão, os adeptos desse totalitarismo seriam conhecidos. Mas