O
conhecido articulista de VEJA, J.R. Guzzo, escreveu um devastador artigo sobre
a “princesa d’oeste”, Campinas. Desde logo quero registrar que não sou
campineiro (nem com um daqueles títulos que os edis generosamente conferem a algumas pessoas):
moro nesta urbe desde os idos de 1964, tendo aqui prestado o serviço militar (e
numa época dura: enquanto cumpria a obrigação militar houve o atentado com um carro-bomba
contra o QG do II Exército, matando o soldado Mário Kozel Filho); foi aqui
também que cursei a Faculdade de Direito, onde depois, e por 30 anos, ministrei
aulas; foi aqui também que trabalhei, após ser aprovado em concurso público de provas
e títulos, como Procurador do Estado, de 1983 a 2008, na área de assistência judiciária criminal, defendendo pessoas acusadas que não podiam arcar com os custos de honorários advocatícios (foi nessa condição que atuei na defesa de "Andinho" quando acusado de haver participado da morte de um dos prefeitos de Campinas, Toninho do PT).
Tenho
muito viva em minha memória a época em que viemos de mudança para cá. Aliás, minha
memória é anterior a essa época, desde o tempo que, antes de nos mudarmos,
vínhamos sempre passar as férias aqui, pois aqui moravam os meus avós e alguns
dos meus tios maternos. E os primos, claro: mais do que parentes, éramos amigos. Eu já tinha verdadeira fascinação pela cidade e uma
vontade incontida de morar aqui.
Finalmente,
no ano de 1964, mais precisamente no dia 4 de fevereiro, nos mudamos para cá –
eu não havia ainda completado 16 anos. Campinas tinha no transporte público
bondes e ônibus, estes da CCTC – Companhia Campineira de Transportes Coletivos.
Na avenida Francisco Glicério localizava-se uma lanchonete que era um “point” –
“Sanducha”. E tomar lanche nas Lojas Americanas ali da rua 13 de Maio era um
charme: a lanchonete ficava num nível mais baixo e era comum comermos o “club
LASA” ou um “hot dog” (quase semelhante ao de New York, sem essa quantidade de
recheio que hoje é posta nesse tipo de sanduíche). Campinas fazia jus ao
epíteto de “princesa d’oeste”: tudo era bonito.
A
cidade era uma referência em matéria de saúde e de ensino. Sirvam como exemplos
o Instituto Penido Burnier e o Colégio Culto à Ciência (para não falar na Escola
Normal, outro ícone do ensino). Na década de 60 veio a Unicamp e algumas
estatais altamente qualificadas. Porém, a derrocada não demorou em ter início.
O
articulista em questão fez um retrato cruel da cidade, porém verdadeiro – a
verdade, aliás, algumas vezes dói. Para que fiquemos situados temporalmente não
muito longe, uma das causas da derrocada é que Campinas ficou aproximadamente
16 anos sem ter prefeito – todos os que passaram por lá durante essa mais de
década e meia nada fizeram pela cidade. Não é possível saber em que campo eles
atuaram – pode-se, então, afirmar que em nenhum. Pelo lado que se olhe, vê-se
que todos os espaços públicos foram deteriorados, prova cabal da inoperância
governamental. Podem ser dados alguns exemplos de espaços públicos: o Bosque
dos Jequitibás e a Lagoa do Taquaral. Outros espaços públicos, como praças: a
Teotônio Vilela, no Cambuí. Nela há um teatro interno que ficou anos
interditado por falta de condições; externamente, há o teatro de arena,
inteiramente degradado, em que as pichações impedem que se enxergue o concreto.
No entorno, bancos faltando pedaços – como se um ripa de madeira custasse
centenas de reais. Ao prefeito, na administração da cidade, cabe, ainda, obter dos poderes estadual e federal os investimentos a que estão obrigados.
Embora
o artigo em questão soe dolorido, ele, desgraçadamente, é verdadeiro, e torço
para que as autoridades municipais (no que couber), estaduais (idem) e federais
(ibidem), o leiam e se envergonhem da situação ali descrita e, enchendo-se de
brios, passem a administrar a cidade como verdadeiros governantes.
É
o mínimo que se pode esperar, a fim de que a dignidade da cidade e dos cidadãos
seja resgatada.
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