Sempre que se ouve o nome Alice, pensa-se na mais famosa delas – sexo feminino, claro, pois há o Alice Cooper -, a que
esteve no país das maravilhas, e foi criada por Lewis Carroll – cujo nome no
registro de pessoas naturais era Charles Lutwidge Dogdson – baseada numa pessoa
de carne e osso chamada Alice Pleasance Ludell, filha do reitor do Christ
College, estabelecimento de ensino em que Lewis ministrava aulas de matemática
(além de matemático, ele era desenhista, fotógrafo e reverendo anglicano).
Passeando de barco com Alice e suas duas irmãs, ele inventou a história para
deleite das meninas e Alice gostou tanto que ele resolveu escrevê-la. Ela tinha 10 anos de idade.
Mas
a Alice que ocupa o título deste texto é outra, também inglesa, mas que não
teve o mesmo destino que a da história. A do título tem o sobrenome Gross e
desapareceu em Londres no dia 28 de agosto de 2014, tendo sido o seu corpo
encontrado no dia 30 de setembro do mesmo ano e a sua busca foi a maior em
Londres desde o ano de 2005, quando houve ataques aos transportes públicos que
ocasionaram a morte de 52 pessoas. Alice tinha 14 anos.
O
trajeto que ela fez foi acompanhado pelas câmeras de segurança até às 16 horas
e 26 minutos do dia de seu desaparecimento, quando
ela andava ao longo do canal sob uma ponte na Trumpers Way. O suspeito é um
letão (não ortodoxo, para lembrar um episódio da série “Seinfeld”...) de 41
anos, imigrante portanto, que houvera ficado preso em seu país por sete anos
acusado de matar a sua mulher no ano de 1998, pois ele também foi flagrado por
câmera de segurança no dia do desaparecimento da garota (28/8) às 16 horas,
andando de bicicleta nas proximidades. O imigrante - não se sabe ainda se ilegal ou não - pôde ser reconhecido porque a sua foto constava dos registros oficiais e isto é muito importante: não bastam as câmeras, é necessário que existam fotos para que seja feita uma busca e comparação entre o que foi registrado na filmagem e o que conta dos arquivos oficiais.
Além
de todos os aspectos trágicos da ocorrência, o que chama a atenção é o número
de câmeras de segurança que a cidade de Londres possui: embora não exista um
número exato, estima-se que elas sejam mais de um milhão; Londres tem 1.623,3
km2, com numa população superior a 8 milhões. Ainda dentro do campo da
estimativa, acredita-se que em todo o Reino Unido (Escócia, País de Gales,
Irlanda do Norte e Inglaterra) haja uma câmera para cada grupo de 14 pessoas. Londres
vem sendo apelidada de “Big Brother” (para quem não sabe, a expressão foi
cunhada a partir do livro “1984”, do britânico George Orwell – nome real Eric
Arthur Blair) em virtude do número de câmeras. Permanecendo ainda no campo da
estimativa, aproximadamente 95% dos crimes são desvendados com auxílio de
câmera (abreviatura CCTV).
Como
se constata, o uso de câmeras de segurança (ou de vigilância, como preferem
alguns) é de grande valia para descobrir crimes, especialmente para descobrir o
(suposto) autor do ilícito, mas não tem ainda servido para inibir a prática mesma
do delito. Mesmo sabendo que o seu ato delituoso poderá estar sendo gravado e
depois servirá para que o longo braço da lei penal o abrace, o seu uso não tem servido de
motivo inibidor ao cometimento da infração. Somente com o passar do tempo,
quando as gravações levarem à punição do criminoso e ela, a punição, for
tornada pública, como pretende uma das finalidades da pena, a prevenção geral,
é que talvez elas, as câmeras, possam servir para inibir a ação dos potenciais
delinquentes.
Enquanto
não houver uma associação firme entre o uso das câmeras e a aplicação (efetiva)
da lei criminal, somente o seu uso não bastará para frear a ação dos criminosos.
Sorria, você está sendo filmado.
Sorria, você está sendo filmado.
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