Pular para o conteúdo principal

Imunidade diplomática



 
   
   Um dos temas estudados na aplicação da lei penal é o referente às pessoas que, embora tenham praticado um crime, não são punidas, ou seja, o Direito Penal não se aplica a elas. Sabe-se que a lei de um país aplica-se em todo o território nacional, porém há exceções. Tal estudo está debaixo do título “imunidades” e elas se dividem em diplomática e parlamentares (dois subtipos). A primeira aplica-se àquelas pessoas que representam um país estrangeiro em outro em que são acreditadas. Os estudiosos apontam algumas razões que fundamentam a imunidade diplomática e uma delas é muito simples: por mais que o representante de outra nação esteja familiarizado com os costumes do local em que ele a representa, nunca ele conseguirá conhecer todas as leis e costumes.
      Dentro dessa linha de exposição, caso um diplomata cometa um delito no país estrangeiro em que ele está, a lei penal deste país não se aplicará a ele. Essa decisão está baseada em tratados e convenções, porém, a seu critério, o país do diplomata pode retirar a imunidade dada a ele, permitindo que ele seja punido no país cuja lei penal ele infringiu. Um exemplo de manual (conforme diz Claus Roxin) é este: se o diplomata da Rússia, por exemplo, dentro da embaixada deste país no Brasil estuprar a camareira brasileira (ou de qualquer outra nacionalidade), ele ficará imune à aplicação do Código Penal brasileiro.
      Antigamente, os países relutavam em abrir mão da imunidade; modernamente, porém, isso tem ocorrido mais amiúde. Há muito tempo, alguns iranianos que moravam em Londres protestavam defronte a embaixada do Irã e repentinamente no interior do prédio foi feito um disparo de arma de fogo em direção àquela multidão; o projétil desgraçadamente atingiu uma policial londrina que patrulhava o local. O Irã, que já vivia a era dos turbantes, e, pois, da intolerância, não retirou a imunidade do pessoal que compunha o corpo diplomático, preferindo retirar aquelas pessoas e, dessa forma, nunca se soube quem fez o disparo fatídico.    
      Em Washington DC, um diplomata da República da Geórgia, ao volante de um veículo, embriagado, e em alta velocidade (apurou-se que o carro estava a mais de 130 quilômetros por hora) atingiu quatro veículos que se encontravam parados por conta da luz vermelha de um semáforo, matando uma jovem brasileira de 16 anos: a imunidade foi retirada e ele, submetido a julgamento, nos EUA, foi condenado a cumprir uma pena de prisão entre sete e vinte anos.
      Recentemente, no Espírito Santo, mais precisamente no dia 12 de maio de 2015, um diplomata espanhol matou a sua mulher, uma brasileira: eles eram casados havia mais de trinta anos e após o homicídio ele espontaneamente se apresentou ao Delegado de Polícia, que, por conta da imunidade, não pode autuá-lo em flagrante. Decorrido algum tempo, a Espanha retirou a imunidade de seu funcionário, permitindo que ele seja julgado conforme a lei brasileira, ou seja, pelo crime de homicídio, quiçá qualificado. A Espanha tem combatido sem tréguas a violência machista e talvez este seja um dos motivos para a retirada da imunidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante