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Uma noite (de terror) em Paris



   
   Era a terceira vez que iríamos à “cidade luz” e desta vez por nós mesmos. É que as anteriores fomos em grupo por empresa de turismo e nessas oportunidades nem todas as grandes atrações são visitadas. De qualquer forma, já conhecíamos a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Museu do Louvre, Montmartre, Invalides (sem entrar, porém), passeio de “bateaux” pelo rio Sena, Galerias Lafayette. Não tínhamos conhecido o Opera, as Galerias Printemps, o Museu D’Orsay, entre outros. Mas desta vez iríamos a esses e a outros locais, e, quem sabe, rever um (ou uns) daqueles outros.
      A viagem, fugindo ao nosso padrão, foi preparada muito antes da partida (por muito antes entenda-se uns quatro meses) e o hotel foi escolhido a dedo: no coração de Paris, na avenida Victoria, distante dois quarteirões do Louvre e a um quarteirão do Sena. Por coincidência, ao receber o e-mail de confirmação da reserva, ele estava escrito em português, com a surpresa adicional de que o “staff” falava a nossa língua (descobrimos depois, por intermédio do pessoal do hotel, que a sua dona fora casada com um jornalista brasileiro: ela falava fluentemente o português, com um quase imperceptível sotaque). Bem localizado, tão logo chegamos (no dia 9/11, por volta de meio-dia), foi só o tempo de tomar um banho e ir caminhando até o Louvre. Sem entrar, continuamos até a praça Les Tuileries (ou Jardim das Tulherias): as folhas caídas pelo rigor do outono parisiense formavam um tapete debaixo dos árvores. Após andar bastante e cansados pelo “jet lag”, comemos um lanche e voltamos ao hotel.
      No dia seguinte, logo após o café da manhã, fomos ao bairro Marais cujo início está a algumas quadras do hotel. Percorremos muitas ruas do bairro, parando na Place Des Vosges, pequena e linda, e continuamos a caminhada até entrar nas ilhas do Sena: a de Paris e a de São Luís. Entrar na Catedral Notre Dame era impossível: a fila era imensa. Ademais, já a tínhamos visitado em 2009 e com vagar. Continuando a caminhar, logo estávamos no hotel.
      No dia seguinte foi a vez do Museu D’Orsay: simplesmente maravilhoso e com quadros dos grandes pintores. Ali estão obras de Gauguin, Van Gogh, Mannet, Monnet e outros tantos. Depois de permanecer ali por algumas horas, fomos ao Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, depois aos Invalides, visitando a tumba de Napoleão, encerrando com uma visita noturna à Torre Eiffel.
      No dia seguinte –já era quinta-feira - foi a vez de visitar o Opera, com uma “esticada” às duas galerias que estão ali bem perto: Lafayette e Printemps.
      Na sexta-feira – e a nossa volta era no sábado – estivemos no Saint-German, depois de visitar a Saint Chapelle, “esticando” até o Jardim de Luxemburgo, maravilhoso em seus mais de duzentos mil metros quadrados e sem um papel de bala no chão.Nele, também, o espetáculo das folhas caídas, formando tapetes, é maravilhoso. Ao sair do hotel para o passeio, encontramos a proprietária e na conversa perguntamos sobre algum restaurante onde poderíamos jantar como despedida. Ela nos indicou um na Ilha de França, em que o “maïtre” é português, e se prontificou a fazer a reserva. Em tom de blague ela disse que pediria a melhor mesa, alegando que fazíamos aniversário de casamento. Disse isso rindo. Na volta ao hotel, fomos informados pela recepcionista que a reserva fora feita e para o horário das 20 horas e 30 minutos. Realmente, o “maïtre” era português, muito simpático e falador, e a mesa era a melhor: era no piso superior e pela janela enxergava-se a lateral da Catedral Notre Dame iluminada.
      No caminho de volta ao hotel, já passando das dez da noite, começamos a notar que muitos carros de polícia, bombeiros e resgate passavam em alta velocidade e com a sirene aberta. Como ali é o coração de Paris, era comum ouvir durante a noite uma ou outra sirene, mas na sexta-feira estava anormal. Entramos no quarto e recebi, no celular, um boletim do jornal El País dizendo que havia ocorrido um tiroteio num bar de Paris com sete baleados. Ligamos a televisão no canal BBC e a tragédia estava sendo transmitida ao vivo dos locais. A partir dessa hora o “inferno” de sirenes aumentou e cortou toda a madrugada.
      O Facebook localizou-me e enviou uma mensagem perguntando se eu me sentia seguro e respondi que sim. Eu não sabia do cuidado desse aplicativo e alguém me explicou que ele foi criado depois da tragédia no Nepal; disseram-me que se a pessoa responder que não, o Facebook procura entre os usuários próximos quem, em segurança, pode acolher aquele que está em perigo. Não foi somente ele: "choveram" mensagens perguntando se estávamos bem e uma vizinha telefonou para a nossa filha oferecendo a casa de sua filha que mora em Paris.
      Embora viéssemos no dia seguinte, sábado,  no voo das 21 horas, acolhendo uma recomendação que a prefeita fez a todos, não saímos do hotel, embora tivéssemos deixado um ou outro passeio para essa data.
      Havia alguma coisa no ar nos dias que antecederam os ataques: em vários pontos turísticos havia detector de metal, esteira com raio x, vigilância com soldados do exército usando fardas camufladas de combate e armamento pesado, como a indicar que os parisienses estivessem esperando alguma tragédia, que, desgraçadamente, ocorreu.
      Nosso receio era de que, com o fechamento das fronteiras, como anunciado, não fossem permitidos voos, o que impediria, com um atraso talvez, o nosso retorno, porém isso não aconteceu: o voo atrasou somente cinco minutos a despeito das extremas medidas de segurança no aeroporto.
      Como conseguimos retornar, nada melhor do que voltar à cidade-luz, a mais charmosa capital da Europa (quiçá do mundo). Em breve.
(Continua na parte II.)

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