Pular para o conteúdo principal

O Papa Francisco e Auschwitz




      Em visita à Polônia, o Papa Francisco esteve em Auschwitz, o mais famoso campo de concentração e de extermínio do nazismo, e as fotos feitas dele mostram-no em atitude silenciosa e reverente. Pudera: o local impressiona.
      A começar pela inscrição no portão de entrada - o trabalho liberta (“arbeit macht frei”) – que representa um sarcasmo desmedido dos nazistas já que os que para ali enviados trabalhavam até morrer e a única libertação que poderiam ter era a provocada pela morte. O autor do mais importante livro – É isto um homem? - escrito por um sobrevivente desse campo (na verdade era um complexo de campos), Primo Levi, narra que quando ali chegou logo perguntou sobre se era possível fugir e obteve esta resposta: “a única forma de sair daqui é pela chaminé”. Ele não entendeu, mas depois lhe foi explicado: era ter o corpo cremado.
      Depois do choque ao ler a inscrição no portão de entrada, há os pavilhões onde ficavam alojados os prisioneiros (como se sabe, não eram apenas os judeus que eram para ali enviados, mas criminosos alemães, poloneses e outros), com incontáveis beliches em que se amontoavam várias pessoas. Um pavilhão foi transformado num, por assim dizer, museu, em que estão os cabelos cortados dos prisioneiros. Dizia-se que seriam utilizados na fabricação de fardas dos soldados alemães.
      Em outro pavilhão também transformado em mini-museu, estão as bagagens dos prisioneiros - ao serem praticamente sequestrados, eles eram enganados e pensavam que voltariam e estão escritos o nome e o endereço do proprietário como se ele um dia fossem reavê-las. Há outro, em que estão as próteses que os prisioneiros usavam, tais como óculos.
      Toda a propriedade está circundada por cercas metálicas praticamente intransponíveis: além do arame farpado, eram eletrificadas e há casos de prisioneiros que se suicidaram jogando-se nela para morrer eletrocutado.
      A curta – e não há como ser mais longa - visita guiada ao campo termina no pavilhão que era o “banheiro” e o crematório. A primeira coisa que se avista é a chaminé e não há como não pensar em Primo Levi. No interior da construção há o “banheiro” em que os chegados eram ordenados a se despir para tomar um banho como medida de limpeza, mas eram mortos com gás (num dos pavilhões, há latas desse veneno). Ao lado há os aparelhos de cremação, semelhantes a uma autoclave, e não há como não se arrepiar ao saber que muitos corpos foram ali cremados especialmente quando se adotou “a solução final”.
      Uma visita ao local mostrará os horrores que ele representou; além disso, há filmes e fotos feitos por soldados alemães, porém a leitura do livro de Primo Levi representa uma visão definitiva sobre o local.
     






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Uma praça sem bancos

Uma música que marcou época, chamada “A Praça”, de autoria de Carlos Imperial, gravada por Ronnie Von no ano de 1967, e que foi um estrondoso sucesso, contém uma frase que diz assim: “sentei naquele banco da pracinha...”. O refrão diz assim: “a mesma praça, o mesmo banco”. É impossível imaginar uma praça sem bancos, ainda que hoje estes não sejam utilizados por aquelas mesmas pessoas de antigamente, como os namorados, por exemplo. Enfim, são duas ideias que se completam: praça e banco (ou bancos). Pois no Cambuí há uma praça, de nome Praça Imprensa Fluminense, em que os bancos entraram num período de extinção. Essa praça é erroneamente chamada de Centro de Convivência, sendo que este está contido nela, já que a expressão “centro de convivência (cultural)” refere-se ao conjunto arquitetônico do local: o teatro interno, o teatro externo e a galeria. O nome Imprensa Fluminense refere-se mesmo à imprensa do Rio de Janeiro e é uma homenagem a ela pela ajuda que prestou à cidade de Campi...

Legítima defesa de terceiro

Um dos temas pouco abordados pelos doutrinadores brasileiros é o da legítima defesa de terceiro; os penalistas dedicam a ele uma poucas páginas, quando muito. Essa causa de exclusão da ilicitude vem definida no artigo 25 do Código Penal: “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. Nessa definição estão contidos os elementos da causa de exclusão em questão: uso moderado dos meios necessários; existência de agressão atual ou iminente; a direito seu ou de outrem. Como se observa facilmente, a defesa é um repulsa a uma agressão, ou seja, é uma reação a uma agressão, atual (que está acontecendo) ou iminente (que está para acontecer). Trata-se, a causa de exclusão em questão, de uma faculdade que o Estado põe à disposição da pessoa de defender-se pois em caso contrário a atuação estatal na proteção dos cidadãos tornar-se-ia inútil. Não é uma obrigação, é uma faculdade. Caso, na...

Câmeras corporais

A adoção da utilização de câmeras corporais por policiais militares gerou – e gera – alguma controvérsia no estado de São Paulo, tendo sido feita uma sugestão que mais lembra um pronunciamento de Eremildo, o Idiota (personagem criado por Elio Gaspari): “os soldados da força policial usariam as câmeras, mas as ligariam apenas quanto quisessem”. Essa tola sugestão tem como raiz o seguinte: nas operações em que pode haver alguma complicação para o policial ele não aciona a câmera; mas demais, sim. Apenas a título informativo, muitos países do mundo tem adotado essa prática: em algumas cidades, como, por exemplo, nos Estados Unidos, até os policiais que não trajam fardas estão utilizando esses aparatos. Mas, a meu ver, o debate tem sido desfocado, ou seja, não se tem em vista a real finalidade da câmera, que é a segurança na aplicação da lei penal, servindo também para proteger o próprio agente da segurança pública (tendo exercido, enquanto Procurador do Estado, a atividade de Defensor...