Pular para o conteúdo principal

Dilma e a linguagem de sinais



            Aproximadamente um ano após obter a minha inscrição na OAB/S (era o ano de 1977), tive a oportunidade de prestar um serviço voluntário na cadeia pública do São Bernardo, o famoso “cadeião” de tantas histórias (uma delas, a mais dramática, foi uma rebelião “sufocada” pela PM, ao custo de muitas vidas – mas esta é outra história). O juiz titular da 2ª Vara Criminal de Campinas[1], que cumulava o Tribunal do Júri e a Corregedoria dos Presídios e da Policia Judiciária, criou uma ONG, chamada Patronato de Ajuda ao Reeducando – PAR, que atuava no “cadeião”. Anos depois a lei de execução penal passou a chamar os condenados de “reeducandos” – uma das finalidades da pena, na prevenção especial, é “reeducar” o condenado.
            Nas tardes de sábado eu ia àquele presídio para prestar algum tipo de auxílio jurídico-penal aos encarcerados. Chamou-me a atenção dois expedientes que os presos utilizavam no cotidiano: um espelhinho para observar se algum carcereiro caminhava pelo corredor e a linguagem de mão (sinais). Este expediente prendeu mais a minha atenção: os presos comunicavam-se fazendo sinais com os dedos da mão direito tal qual as pessoas mudas fazem. Esse hábito tem origem no sistema penitenciário auburniano, surgido na cidade de Auburn, estado de New York, em que os condenados eram obrigados a permanecer em silêncio todo o tempo, sendo, por isso, chamado de “silente system”, e, para a comunicação entre si, desenvolveram esse alfabeto. O mais interessante era a rapidez com que os presos faziam os sinais.
            Voltei, agora como Procurador do Estado, a trabalhar no “cadeião”, duas vezes por semanas e aprofundei o meu interesse por essa linguagem: era o ano de 1983. Ensaiei até umas conversas com alguns presos.
            No Brasil existe uma linguagem para a comunicação entre pessoas mudas, chamada LIBRAS – Linguagem Brasileira de Sinais. É oficial e há cursos sobre ele.
            A presidente Dilma precisa ser cientificada do que as pessoas estão pedindo nas ruas ainda que seja pela linguagem LIBRAS, pois ela tem se portado como uma surda acerca dos pedidos feitos pelas pessoas que estão na rua. Ele deveria designar alguns “arapongas” da ABIN – Agência Brasileira de Informações (herança do poder militar), que mais deveria ser chamada de Agência de Bisbilhotice Nacional – para vasculhar as redes sociais e constatar o que está sendo veiculado; ou enviar “arapongas” para as ruas a fim de ler os cartazes que os manifestantes portam. Ninguém pediu plebiscito: o que a esmagadora maioria quer é, por exemplo, o retorno da moralidade na atividade da Administração Pública e outras que não pertinentes à atividade dela: ela não pode, por exemplo, mandar os “mensaleiros” para a cadeia já, mas o partido a que eles pertencem, coincidentemente o mesmo partido a que ela pertence e que passou mais de duas décadas prometendo a ética na política, pode, em respeito à moralidade, pedir que eles sejam “sacados” da CCJ da Câmara.
            Ela tem desempenhado o papel de surda, mas não o de muda: sempre que ela se manifesta, além de gastar “uma nota” em maquiagem e cabelos, ela fica se cobrindo de elogios, como se ela e o seu antecessor tivessem redemocratizado o Brasil.


 


[1] . Roberto Telles Sampaio

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante