Pular para o conteúdo principal

Dois povos, duas atitudes



            Anos atrás, assisti a uma entrevista de um sociólogo árabe no canal Globonews em que ele disse que os EUA eram a maior potência de todos os tempos (não pude deixar de lembrar de Alexandre, o Grande, nem dos vikings, nem, claro, dos romanos e seu Império); era, obviamente, ressaltado o espírito bélico dos estadunidenses. De lá para cá os EUA invadiram o Iraque e ameaçam agora invadir a Síria (o pretexto para a invasão ao Iraque foi a posse de armas e, depois se constatou, tratava-se de uma mentira; o pretexto para invadir a Síria é a utilização de armas químicas na guerra interna que ali acontece).
            Essa lembrança me veio à mente quando li num jornal semanal distribuído gratuitamente em New York, chamado Epoch Times (que, ao contrário daquele que é distribuído diariamente em Campinas [e outras cidades, inclusive do exterior], traz reportagens longas de assuntos sérios), a seguinte matéria: “Justice Elusive for Parentes of  Slain Youth”. O subtítulo é: “parents dedicated to changing culture of violence”. Na reportagem é mostrado e entrevistado Chris Owens, pai de um adolescente de 13 anos que foi alvejado no Harlem, na esquina da avenida 8 com a rua 125. Ele não morreu no momento do ataque, foi socorrido mas entrou em coma irreversível. Depois de algum tempo os médicos chamaram Chris e pediram permissão para desligar as máquinas que mantinham o adolescente vivo. Diz Chris: “eu tive que tomar a decisão mais difícil da minha vida. Ele era meu único filho”. O jovem morreu em abril de 2009.
            Depois disso, ele criou a “Chris S. Owens Foundation”(era o nome de seu filho), para, como diz o subtítulo da matéria, “mudar a cultura da violência”, especialmente aquela que tem como vítima os jovens. Como realce final: a polícia de New York oferece uma recompensa de 12 mil dólares por qualquer informação que leve à prisão do (até agora) desconhecido matador.
            O Brasil nunca foi (nem será) um império e dizem que o brasileiro é "cordial": a filha da novelista Glória Perez (Daniella Perez) foi morta pelo colega Guilherme de Pádua (os detalhes são conhecidos de todos) e ela fez uma campanha nacional de coleta de assinaturas para modificar o Código Penal, tornando o homicídio qualificado crime hediondo, com todas as, na época, consequências. Conseguiu o seu objetivo e a sua campanha resultou na lei (Glória Perez) nº 8.930, de 6 de setembro de 1994. A sua ideia, péssima por qualquer ângulo que se a analise, tinha como única finalidade punir mais severamente o autor (foram dois autores na verdade: Guilherme de Pádua e sua mulher, Paula Thomaz), o que equivale dizer, fazer com que a “novatio legis” retroagisse para alcançar fato cometido antes de sua entrada em vigor. Conseguiu aprovar a lei, porém não o seu efeito retroativo. A concessão, pelo juiz da Vara das Execuções Criminais do Rio de Janeiro, de progressão prisional (que era proibido pela lei de crimes hediondos) a Guilherme de Pádua foi a matéria de abertura do Jornal Nacional: era visível a expressão de descontentamento (talvez ira?) de William Bonner com a decisão; a notícia também informava que o Ministério Público recorreria contra a concessão. Debalde.
            Dois povos, duas atitudes: quem é o belicista?


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A assessora exonerade

Um fato tomou a atenção de muitos a partir de domingo quando uma assessora “especial” do Ministério da Integração Racial ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas em geral. Um breve resumo para quem não acompanhou a ocorrência: a final da Copa do Brasil seria – como foi – no Morumbi, em São Paulo. A Ministra da Integração Racial requisitou um jato da FAB para vir à capital na data do jogo, um domingo, a título de assinar um protocolo de intenções (ou coisa que o valha) sobre o combate ao racismo (há algum tempo escrevi um texto sobre o racismo nos estádios de futebol). Como se sabe, as repartições públicas não funcionam aos domingos, mas, enfim, foi decisão da ministra (confessadamente flamenguista). Acompanhando-a veio uma assessora especial de nome Marcelle Decothé da Silva (também flamenguista). Talvez a versão seja verdadeira – a assinatura do protocolo contra o racismo – pois é de todos sabido que há uma crescente preocupação com o racismo nos estádios de fu

Por dentro dos presídios – Cadeia do São Bernardo

      Tão logo formado em Ciências Jurídicas e Sociais e tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, prestei auxílio num projeto que estava sendo desenvolvido junto à Cadeia Pública de Campinas (esta unidade localizava-se na avenida João Batista Morato do Canto, n° 100, bairro São Bernardo – por sua localização, era apelidada “cadeião do São Bernardo”) pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal (que cumulava a função de Corregedor da Polícia e dos Presídios), Roberto Telles Sampaio: era o ano de 1977. Segundo esse projeto, um casal “adotava” uma cela (no jargão carcerário, “xadrez”) e a provia de algumas necessidades mínimas, tais como, fornecimento de pasta de dentes e sabonetes. Aos sábados, defronte à catedral metropolitana de Campinas, era realizada uma feira de artesanato dos objetos fabricados pelos detentos. Uma das experiências foi uma forma de “saída temporária”.       Antes da inauguração, feita com pompa e circunstância, os presos provisórios eram “aco

Matando por amor

Ambas as envolvidas (na verdade eram três: havia um homem no enredo) eram prostitutas, ou seja, mercadejavam – era assim que se dizia antigamente – o próprio corpo, usando-o como fonte de renda. Exerciam “a mais antiga profissão do mundo” (embora não regulamentada até hoje) na zona do meretrício [1] no bairro Jardim Itatinga.             Logo que a minha família veio de mudança para Campinas, o que se deu no ano de 1964, a prostituição era exercida no bairro Taquaral, bem próximo da lagoa com o mesmo nome. Campinas praticamente terminava ali e o entorno da lagoa não era ainda urbanizado. As casas em que era praticada a prostituição, com a chegada de casas de família, foram obrigadas a imitar o bairro vermelho de Amsterdã:   colocar uma luz vermelha logo na entrada da casa para avisar que ali era um prostíbulo. Com a construção de mais casas, digamos, de família,   naquele bairro, houve uma tentativa de transferir os prostíbulos para outro bairro que se formava, mais adiante