Na
cidade em que nasci havia uma confeitaria chiquérrima, com doces maravilhosos e
gostosos, chamada “Confeitaria Vienense”. Naquela época, creio, eu não sabia da
existência de uma cidade chamada Viena, nem onde ficava. O que importava eram
os doces – só de olhar já dava uma vontade louca de comer. Depois de adentrar a
terceira idade, fui conhecer Viena, já sabendo algo de sua história, Fui,
claro, comer um pedaço da famosíssima sachertorte no Hotel Sacher. A iguaria é
apetitosa. Depois, perambulando pelas ruas do centro de Viena deparei-me com a
Confeitaria Demel: um local lindo, com doces maravilhosos, mas o que chamou
mesmo a atenção foi que o local em que os doces são confeccionados é cercado
por vidros, de forma que os consumidores conseguem ver o trabalho dos
confeiteiros. Nem preciso dizer que a confeitaria é enorme.
Fui
à cidade de Poços de Caldas para atuar na defesa de um acusado perante o
tribunal do júri daquela comarca mineira. Infelizmente, o julgamento não ocorreu
por motivos que não vêm ao caso, porém algumas pessoas amigas do meu cliente
deram algumas dicas – que engordam, óbvio – sobre a cidade. A primeira foi
sobre o Mercado Municipal – distante do fórum duas quadras -, especialmente
sobre o box 9, em que a variedade de queijos e doces é inimaginável. Goiabada
cascão, sem cascão, doce de leite (mineiro) puro, com coco, com nozes, enfim,
uma variedade que só de pensar engorda.
Outra
dica era sobre “Quitutes da Rosa”, bem distante do centro da cidade. O
estabelecimento é modesto, extremamente limpo e, assemelhando-se à Confeitaria
Demel de Viena, o local em que são preparados os doces e salgados é
envidraçado, permitindo ao consumidor assistir à produção das guloseimas.
Produtos também que só de olhar engorda alguns gramas. Essa, por assim dizer,
“descoberta”, fez-me voltar a minha infância e adolescência, à Confeitaria
Vienense, bem como me fez voltar à Confeitaria Demel, esta tipicamente
vienense, mas me fez meditar especialmente sobre o seguinte: ideias de primeiro
mundo podem facilmente ser executadas em nosso país: basta que se tenha boa
vontade.
Um
local em que os consumidores podem assistir à produção daquilo que vão adquirir
e consumir é o ápice do respeito ao direito dessas pessoas. Nada de placas ao
estilo “pode visitar a nossa cozinha”, convite que nunca vi alguém aceitar,
inclusive eu, mas simplesmente a transparência. Não deve encarecer o produto.
(Confeitaria Demel, em Viena)
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