Em seu curto
tempo de vida, “Anzo” notabilizou-se como uma pessoa que não hesitava em
apertar o gatilho da arma de fogo que sempre portava, tirando a vida de quem estivesse
de alguma contrariando-o; assim agiu diversas vezes, matando várias pessoas.
Ele estava entre as pessoas acusadas de terem participado da morte de Antonio
Costa Santos; teria sido ele autor de alguns disparos contra o prefeito, na
fantasiosa versão do Ministério Público.
“Anzo”,
Christiano e mais quatro rapazes estavam em três veículos – um Monza e duas
motocicleta, dois rapazes em cada um – percorrendo as ruas do Jardim
Paranapanema (eles moravam no bairro adjacente, Jardim São Fernando – que,
apesar do nome santo, tinha um alto índice de criminalidade, especialmente de
tráfico de entorpecente), uma noite, à procura de uma moto “titanzinha” (como
eles mesmos a chamavam) que fora subtraída de um deles. Numa das esquinas,
viram três rapazes negros que conversavam; pararam, perguntando sobre a
“titanzinha”. Alguns componentes de ambos os grupos conheciam-se entre si.
Um daqueles
rapazes a quem foram pedidas informações resolveu endurecer o diálogo; disse
ser estranho que ladrões estivessem procurando por um objeto subtraído (talvez
uma alusão ao ditado “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”?).
Iniciou-se um conflito verbal. “Anzo” disse a um daqueles rapazes. o com quem
mantinha o diálogo: “você está mentindo e negro só mente”. Em seguida: “você já
falou demais”. Pronunciada a frase, começaram os disparos contra aqueles três
rapazes; um deles morreu no local; outro, embora gravemente atingido, ainda
conseguiu arrastar-se até o jardim de uma casa onde veio a falecer; o terceiro,
ferido sem gravidade, enfiou-se sob um carro que ali estava estacionado e
conseguiu salvar-se: era a única testemunha, embora, juridicamente, fosse
vítima.
Dos quatro que
procuravam a moto furtada apenas dois foram descobertos: “Anzo” e Christiano.
Durante o processo, “Anzo” foi morto (em Caraguatatuba), de forma que apenas
Christiano foi julgado. Em plenário, a vítima sobrevivente descreveu os fatos
como se fosse um filme: os projéteis disparados contra si enquanto estava sob o
carro ricocheteando no asfalto. Porém, ela, quando do julgamento, estava
cumprindo pena por um roubo que cometera, por conta disso, talvez temerosa, não
foi tão incisiva em suas declarações contra Christiano. Os jurados
condenaram-no apenas por um dos homicídios e a pena imposta foi de 12 anos de
reclusão, no regime inicialmente fechado (a esta altura, já deve estar no regime
aberto).
A mulher de
Christiano enviou-me telegrama de agradecimento de tão satisfeita que ficou com
o resultado. Depois, conversando comigo sobre o julgamento, revelou-me que um
daqueles rapazes que não foi descoberto esteve presente durante todo o julgamento
em plenário. E que também a mãe de “Anzo”, embora ele tivesse falecido, também
presenciou todo o julgamento.
(Capítulo do livro "Casos de júri e outros casos", Editora Millennium)
(Capítulo do livro "Casos de júri e outros casos", Editora Millennium)
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