Hanna
Arendt viveu uma vida digna de ser filmada e foi isso o que aconteceu: está em
exibição em algumas poucas salas – em Campinas, somente em uma – o filme
“Hanna”, que retrata nas telas uma parte da vida dessa filósofa.
Assim
como o filme “Hitchcock” registra apenas uma parte da vida desse grande diretor
inglês – a criação do filme “Psicose”-, em “Hanna” a abordagem centra-se basicamente na cobertura que fez do julgamento de Adolf
Eichmann, o arquiteto da “Solução final”, em Jerusalém, o artigo que escreveu
para a revista The New Yorker e a reação histérica que a publicação
produziu.
O
início do filme se dá com o sequestro de Eichmann na Argentina (embora isso não
fique muito claro ao espectador que não conhece a história); quando Israel
decide que o julgará, Hanna oferece-se à revista The New Yorker para
jornalisticamente cobrir o evento. Na direção da revista, há resistência a sua
contratação, mas ela é aceita.
Vai
a Israel e faz a cobertura, escrevendo um artigo de 300 páginas, que a revista,
com o seu consentimento, publica-o em 5 partes; a publicação provoca
incontáveis reações, muitas delas histéricas. A histeria foi causada
principalmente porque Hanna Arendt desmistificou Adolf Eichmann, descrevendo-o
como um reles burocrata, quase um débil mental, e porque afirmou que faltou
resistência aos judeus, especialmente aos líderes, quanto ao Holocausto. Para
muitos, Eichmann encarnava o demônio, um homem com superpoderes e ela o
descreveu de outra forma. Quanto à possível falta de reação dos judeus (é um
tema recorrente), recomendo a leitura do livro “É isto um homem?”, de Primo
Levi, um sobrevivente do Holocausto.
Há
flashes de seu relacionamento com o filósofo Martin Heiddegger, que foi seu
professor – ela o procurou para que ele a ensinasse a pensar e ele afirmou que
“pensar é uma atividade solitária” – e com quem teve um relacionamento não público. Ele era
casado, tinha filhos e era 17 anos mais velho do que ela (ela tinha 18 anos e
ele, 35). Foi chamada de “a aluna preferida de Heidegger”. O filósofo filiou-se
ao partido nazista.
Ela
esteve presa num campo de detenção em Gurs, na França, a antessala dos campos
de concentração, porém obteve um visto para os Estados Unidos, que ela descreve
como um “paraíso”.
Duas
pessoas, em locais e tempos diversos, a
quem disse que iria assistir ao filme “Hanna”, me perguntaram: “Montana”? Eu
quase respondi: “não, Barbera..." (Hanna-Barbera, ou William Hanna e Joseph
Barbera, foram os cartunistas que criaram “Os Flintstones”, “Os Jetsons”, “Pepe
Legal”, “Zé Colméia" e muitos outros personagens).
Ela
escreveu outros livros, tais como “Origens do totalitarismo” e “A condição
humana". O seu artigo publicado pela revista tornou-se um livro – "Eichmann em
Jerusalém – um relato (ou informe) sobre a banalidade do mal”. Esta expressão –
banalidade do mal - foi cunhada por Hanna. Ao questionar, via “habeas-corpus”, a
legalidade do primeiro interrogatório “on-line” feito no Brasil, que se deu na
1ª Vara Criminal da comarca de Campinas no ano de 1996, um dos autores que
citei no pedido foi Hanna Arendt, especificamente um trecho do livro (magnífico) “A
condição humana”.
Melhor
será assistir ao filme e ler o livro “Eichmann em Jesuralém” (se possível, ler
também “Caçando Eichmann").
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